HISTÓRIA
DA UMBANDA [1]
Primeira
Parte
As
religiões monoteístas raramente motivaram o ser humano a aproximar-se de Deus
voluntariamente. Na maioria delas esta é uma entidade intocável, inalcançável.
Quase todas as religiões monoteístas, senão todas, só falam desse Deus
inatingível, enquanto a maioria da humanidade vive marginalizada, abandonada e,
muitas vezes, até escravizada. Poderemos, nós os Umbandistas, superar essa
dificuldade? Somente se reconhecermos que Deus não está longe do ser humano,
mas como disse Jesus “o reino de Deus está entre vós. "O reino de Deus
não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! ou Ei-lo ali! pois o
reino de Deus está dentro de vós. (Lucas 17:20,21)" Somente se
reconhecermos que dentro de cada um de nós existe a centelha divina, somente se
consideramos que Deus é onipresente, que Ele está em tudo e em todos e não
restrito a um local imaginário para onde somente vão alguns poucos escolhidos.
A Umbanda é uma religião brasileira,
baseada nos ensinamentos de Cristo, na comunicação com os Espíritos de Luz e na
incorporação de Almas em médiuns, com a finalidade de ajudar aos encarnados na
sua busca de evolução, de auxiliá-los em seu equilíbrio neste nosso plano, além
de oportunidade aos Espíritos que se manifestam de aqui fazerem uma tarefa
dignificante, um trabalho para a caridade, o que também lhes ajudará em sua
evolução. Apresentamos, a seguir, uma síntese de sua origem.
Em fins de 1908 uma família tradicional de Neves, hoje São Gonçalo,
estado do Rio de Janeiro se via envolvida com um problema que não sabia como
enfrentar. Zélio Fernandino de Moraes, um jovem familiar de 17 anos que se
preparava para seguir carreira militar na Marinha Brasileira, foi tomado de uma
paralisia que o prendia na cama[2],
além de fazer com que, nos momentos em que se movimentava tomar posições e
falar de forma diferente do seu habitual. Já tinham procurado vários médicos
que depois de muito examinar o jovem diziam sempre não saber ou não entender o
que estava acontecendo com ele. Sua mãe, como um último recurso o levou a uma
senhora negra, benzedeira e médium, que recebia um Preto Velho de nome Tio
Antônio. Esperava que recebendo um passe conseguiria a sua cura. A Entidade
depois de atender o jovem e lhe dar o passe disse que ele melhoraria e
receberia uma entidade de sua falange.
No dia 14 de novembro desse mesmo ano, a
família foi surpreendida por uma ocorrência inexplicável. O jovem Zélio sentou-se na cama, e com uma voz
que não era a dele, segundo testemunhas, falou: "Amanhã meu aparelho
estará curado". No dia seguinte levantou-se normalmente e começou a andar,
como se nada tivesse acontecido. A família, que já havia buscado ajuda para sua
melhora, com vários médicos e religiosos, não soube explicar o que tinha
ocorrido. Um amigo da família, sugeriu então, uma visita à Federação Espírita do
Rio de Janeiro, situada em Niterói. Foram a uma reunião presidida por José de
Souza, naquele mesmo dia, 15 de novembro
de 1908. O dirigente dos trabalhos determinou que ele ocupasse um lugar
à mesa, fato raro para aquela época, pois somente tomavam assento em uma mesa
kardecista pessoas antigas nos Centros e já mais velhos. Zélio, posteriormente,
narrou seu desconforto por estar no meio de pessoas tão conhecedoras do
Kardecismo e muito mais velhas que ele.
Transcrevemos, abaixo parte de uma
entrevista de Zélio de Moraes, a Lilia Ribeiro, jornalista e fundadora da Tenda
de Umbanda Luz, Esperança e Fé.
“Zélio relembrou sua ida à Federação
Espírita (de Niterói) em 15 de novembro de 1908:
- Eu estava paralítico, desenganado pelos
médicos. Certo dia, para surpresa de minha família, sentei-me na cama e disse
que no dia seguinte estaria curado. Isto foi no dia 14 de novembro de 1908. Eu
tinha 17 anos. No dia seguinte, eu amanheci bom. Meus pais, que eram católicos,
diante dessa cura inexplicável, resolveram que eu iria à Federação Espírita, em
Niterói. O presidente era José de Souza. Foi ele mesmo quem me mandou ocupar um
lugar na mesa, à sua direita”. A íntegra dessa entrevista está anexa ao final
deste livro.
Quando o chefe dos trabalhos deu início à sessão,
Zélio tomado por uma força, segundo ele estranha e que ele não conhecia,
contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer membro da mesa, e
as admoestações que lhe foram feitas, o jovem levantou-se e disse: "Aqui, está faltando uma flor!". Levantou-se,
retirou-se da sala. Pouco depois, voltou trazendo uma rosa branca, que
depositou no centro da mesa. Essa atitude insólita causou um início de tumulto.
Restabelecida a corrente começaram a se manifestar espíritos que se diziam negros
escravos, índios, caboclos, em diversos médiuns. Esses espíritos foram
convidados a se retirar pelo presidente dos trabalhos em virtude, dizia ele, de
seu estado de atraso espiritual[3]. A
insistência dos dirigentes da mesa, para que esses espíritos não perturbassem a
sessão, levou a que Zélio, tomado de um espírito, que se dizia de um Caboclo, tomasse
a palavra.
A entidade incorporada em Zélio
questionava por que eles não poderiam ali trabalhar para ajudar aos encarnados.
Uma médium da mesa, perguntou ao espírito que estava incorporado em
Zélio:" Porque o irmão, fala
nestes termos, pretendendo que esta mesa aceite a manifestação de espíritos
que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente
atrasados? E, qual teu nome irmão?" A entidade respondeu que era um
Caboclo e que para ele não fazia diferença um nome, mas que poderiam chamá-lo
de Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para ele não haveria caminhos
fechados.
A Alma incorporada em Zélio acrescentou:
"Se julgam atrasados esses
espíritos dos pretos, índios, caboclos, devo dizer que amanhã estarei em casa
desse aparelho para dar início a um culto onde esses negros e esses índios
poderão dar a sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes
confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade
que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados”.
A médium insistiu: Por que você se diz um
Caboclo, se vejo em você restos de uma veste sacerdotal? A entidade então lhe
respondeu: O que você vê em mim, são
restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel
Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição em
Lisboa, no ano de 1761, mas em minha última existência física Deus concedeu-me o
privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.
O vidente retrucou: Julga o irmão que alguém irá assistir a seu
culto? Perguntou com ironia. E o espírito disse: “Levarei daqui
uma semente e dela nascerá uma frondosa árvore. Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que
amanhã terá início”. Perguntado que culto seria aquele, a entidade
respondeu: será um culto em que todos serão bem-vindos e se chamará Umbanda.
[1] A
História da Umbanda chegou até nós, sacerdotes da Casa Branca de Oxalá, através
da Jornalista Lilia Ribeiro. Ela que foi a fundadora e chefe da Tenda de
Umbanda Luz, Esperança e Fé até sua morte, forneceu-nos todas as fitas cassetes
que ela havia gravado com Zélio e ainda vários escritos, dela e de outros
chefes de Terreiro, sobre a origem da Umbanda. Nos fez uma única exigência, que
somente as divulgaríamos após sua morte. Foi o que fizemos com a autorização da
filha de Zélio, Zilméia de Moraes Lacerda. Na verdade, outros Pais de Terreiro
já tinham tido esse conhecimento anteriormente, mas foi através do trabalho de
Lília Ribeiro divulgado por Mãe Maria de Omolu da Casa Branca de Oxalá, na
internet, que se tornou um conhecimento geral, ao alcance de todos, a origem
que aqui narramos.
[2] Existem algumas versões diferentes sobre
o mal que o acometia; esta que demos, no
entanto, faz parte de uma fita gravada que temos onde o próprio Zélio narra
esses acontecimentos e foi confirmada em entrevista que fizemos com suas
filhas, Zélia e Zilméia.
SUA BENÇÃO PAI,SEMPRE SERÁ UMA EMOÇÃO MUITO GRANDE ,QUANDO LÊ SOBRE A HISTÓRIA DA UMBANDA,SABENDO QUE ATRVÉS DO CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS ESTA SEMENTE SE TORNOU UMA FRONDOSA ÁRVORE,QUE CONTINUA CRESCENDO....SALVE A UMBANDA!!!!
ResponderExcluirSalve, filha. Que Oxalá a abençoe.
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