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Magia Negra
“A magia negra teve, principalmente na Europa, toda
uma suntuosidade ritualística e litúrgica. Lá eram os nobres, os burgueses os
seus seguidores. No entanto, no Brasil com sua mistura com elementos
africanistas e mesmo indígenas perdeu toda essa teatralidade e riqueza, mantendo,
porém, seu poder ameaçador. As entidades espirituais que realizavam os seus
trabalhos demonstravam uma sinistra sabedoria, recursos formidáveis e energia
fluídica aterradora”. (Leal de Souza – adaptação de trechos da obra citada)
A magia negra era aquela que se propunha utilizar
forças sobrenaturais com a finalidade de prejudicar ou causar o mal a alguém. Erroneamente
muita gente considera que o termo magia negra pode definir também as práticas e rituais
cerimoniais e litúrgicos de antigos cultos praticados pelas antigas civilizações,
como a persa, egípcia, celta e outras. Isso, no entanto, não é verdade, pois tal
como os sacrifícios que eram praticados em Israel para o Senhor, ou para o
Altíssimo, tinham um caráter ritualístico e não de magia negra.
Os sacrifícios na maioria das regiões do mundo tinham também a função
alimentar por que, depois de oferecido o sangue ao seu Deus, a carne era
utilizada em festas onde ela era distribuída ao povo envolvido nessa oferenda. Quando
esses povos rogavam a seus Deuses que os ajudassem nas lutas contra seus
inimigos não era magia negra. Também não o era quando faziam suas oferendas por
uma boa colheita ou em homenagem a um dia especialmente importante para essa
cultura. Na verdade, eles estavam se valendo de sua fé para vencerem as
agressões de outros povos, para conquistar territórios, para bons resultados
nos campos ou simplesmente usando aquele sacrifício como veículo para sua fé.
Este instrumento era como o acender uma vela, colocar alimentos, flores ou se
ajoelhar ou prostrar-se no Templo.
Claro que naquela época existiam também os feiticeiros ou magos, mas os
rituais deles eram praticamente secretos, com a presença,
quando havia, dos interessados no assunto para o qual era feito o pedido. As entidades
na magia negra eram invocadas porque, supostamente, possuíam sabedoria para o
mal e poderes mágicos e energias enormes. Utilizavam pontos cabalísticos para
fazer seus trabalhos. Esta magia ocorria cada vez que um mago invocava um
espírito demoníaco ou das trevas para se comunicar com ele e fazê-lo produzir
um determinado efeito, podendo ser utilizada para todo e qualquer tipo de
propósito.
As oferendas, na magia negra, eram presentes ou
pagas para as entidades inferiores para que prejudiquem à pessoa a quem era dirigido
o trabalho. O material usado definia quão baixo era o nível espiritual dos
espíritos invocados. É certo que as entidades invocadas não se alimentavam com
os materiais colocados para eles, mas, aqueles que o faziam esperavam que eles
fossem utilizados como fornecimento da energia que deles exalavam ou que deles podiam
extrair para a execução do trabalho.
Esses despachos podiam ser executados, pelo menos, de três maneiras por
aquele que conduz a ação.
A primeira através do contato fluídico entre o feiticeiro
e aquele que desejava prejudicar, nesse caso, utilizavam objetos, roupas,
partes do corpo da pessoa, como as unhas, os cabelos, barbas, etc. A partir daí, através do seu magnetismo
pessoal concentravam-se no objetivo desejado e na vítima a ser atingida e
através dessa força e de eventuais quedas de vibração da vítima conseguiam atingi-la.
A segunda em contato com entidades de
desenvolvimento espiritual nulo ou quase nulo e através de oferendas a essas
entidades transformavam-nas praticamente em escravas suas ou da casa onde o feiticeiro
trabalhava. Muitas vezes pela própria desorientação espiritual em que se
encontravam, esses espíritos de desenvolvimento inferior se deixavam manipular
por outros espíritos do mal, encarnados ou desencarnados que não possuíam nenhuma
formação moral e religiosa.
A terceira forma os magos negros se aproveitavam de
problemas gerados em outras encarnações entre a vítima e espíritos que ainda traziam
consigo a ira, a raiva, a percepção turvada apesar do passar dos tempos. Estes
espíritos se prestavam a trabalhos de vingança, de tornar atribulada a vida da
pessoa a quem era dirigido o dito trabalho. Buscavam prejudicar a saúde e, em
casos extremos, levar à morte aqueles que eram objeto da ira de quem encomendava
o trabalho. Eram produzidos fatos exteriores à pessoa (doença, acidentes, etc.)
que levavam à fragilidade física aquelas que eram o alvo, as vítimas.
Pelas formas que foram descritas acima vemos que o
trabalho do mago ou feiticeiro não conta necessariamente com uma mediunidade de
incorporação, mas usa espíritos inferiores, utilizando sua própria força
magnética e concentrando-se para que o mal aconteça a quem é dirigido. Devemos
nos lembrar que por sua atuação com essas energias baixas, ruins mesmo, o mago
normalmente tem, ao fim e ao cabo, suas próprias energias deterioradas e sua
saúde prejudicada.
Após 1908, a Umbanda, então chamada Magia Branca,
passou a combater a Magia Negra utilizando-se de entidades de luz que se
reuniram com a finalidade de praticar a caridade e livrar aqueles seres humanos
de trabalhos que haviam sido feitos contra eles pela Magia Negra.
Devemos relembrar que quando a pessoa a quem foi
dirigido o trabalho consegue manter sua vibração acima daquela que foi
utilizada pela magia, com o objetivo de atingi-la, com pensamentos positivos,
posturas e comportamentos adequados à Lei Maior de Cristo – o Amor – nenhuma
magia se sintonizará com ela pois, suas ondas vibratórias se encontrando em
nível superior, não haverá o encontro com as vibrações do mal que lhe foram
dirigidas.
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Casa das Almas
Durante toda a história
da humanidade, a angústia pela perda dos entes queridos fez com que as pessoas
buscassem uma forma de ter notícias desses parentes ou amigos através de
médiuns que diziam ter o poder de se comunicar com o mundo espiritual.
Na antiguidade, os magos
e os feiticeiros, em algumas
culturas, já tinham um espaço destinado à invocação das almas de antepassados. Porém
não tinham a finalidade com que foi utilizada no Brasil. Naquelas civilizações,
fazia-se o culto aos mortos utilizando métodos divinatórios, envolvendo a força
de deuses da escuridão, do mundo inferior enquanto o sol minguava. Por outro
lado, era também chamada a festa do deus Cerne, na qual os mortos se faziam
visíveis e com quem poderiam interagir. A utilidade dessa comunicação com os
mortos tanto poderia ser para o bem quanto para o mal. Em outros lugares essa
Casa das Almas servia para recebimento e doação de alimentos a necessitados e
também para acender velas para as Almas das pessoas
queridas. No Oriente, a Casa das Almas é um costume que existe a milhares de
anos e que consiste em se dar alimentos para os antepassados. Também no Brasil,
na cultura indígena, em especial os Nhambiquaras, que viviam perto da Chapada
dos Parecis tinham sua Casa das Almas para reverenciar seus mortos.
Com o advento do
espiritismo, a partir de 1850, que popularizou a mediunidade, várias pessoas
passaram a dizer que tinham essa
capacidade, e que podiam trazer notícias dos mortos queridos. Durante muitos
anos, tanto aqui quanto no exterior, os verdadeiros espíritas não pararam de
desmistificar inúmeras pessoas que se utilizavam de trapaças e truques querendo
demonstrar poderes que realmente não tinham.
Essas mistificações se agravaram com a abolição da
escravatura. Como a libertação dos negros, no Brasil, se deu sem que a eles
fossem propiciados fatores de produção que permitissem o seu sustento, aqueles
que estavam no ambiente urbano, principalmente nas grandes cidades passaram a
ter necessidade de garantir o seu próprio sustento. Nos primeiros anos de nossa
primeira república os negros libertos passaram a utilizar-se do parco
conhecimento que tinham, sobre o lado divinatório e de encaminhamento e
comunicação com os mortos, que já vinham da cultura de suas tribos na África,
para ganhar algum dinheiro que lhes permitisse viver.
Alguns criavam um ambiente para funcionar o que eles
chamavam de Casa das Almas com a finalidade de atender aos clientes na
comunicação com os seus mortos. Outros se utilizavam de sementes e conchas para
sustentar as informações dadas aos seus clientes. Sempre esses atendimentos se
faziam mediante um pagamento. Em pequenos cômodos com velas, cruzes e imagens
de santos evocavam os mortos ou jogavam suas sementes ou conchas; quando
famílias perdiam seus entes queridos e queriam falar com eles ou despachá-los –
fazer com que se fossem e não ficassem perturbando os vivos. Se os parentes possuíam
ou arranjavam dinheiro, algo em torno de $300,00 contos de réis, para pagar aos
feiticeiros mais famosos que conduziam essas Casas conseguiam que o rito
necessário fosse feito. Caso não tivessem essa quantia, eram “obrigados” a
conviver com o parente morto, que se recusava a partir ou não conseguiam se
comunicar com o seu parente falecido.
Todos os trabalhos eram em meio a cerimônias, que davam
a eles uma teatralidade voltada para o sentimento que interessava em cada caso e
que iam da emoção pelo reencontro até o medo pela presença daquele “espírito” a
ser “encaminhado”.
Uma última ressalva que necessitamos fazer é que na
maioria dos casos em que interferiam os ditos “médiuns” nem sabiam o que era
mediunidade, se conheciam era de ouvir dizer e nem tinham o poder que diziam
ter.