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terça-feira, 9 de julho de 2019

LIBERDADE RELIGIOSA O QUE É? Primeira Parte



LIBERDADE RELIGIOSA

“Nós não reconhecemos diferenças nem distinções na família humana: como brasileiros serão tratados por nós o chinês e o luso, o egípcio e o haitiano, o adorador do sol e o de Maomé. Sejamos nós o primeiro povo que apresente o quadro prático dessa paz divinal, dessa concórdia celeste, que deve, um dia, ligar a todo o mundo e fazer de todos os homens uma só família.”[1] 

Introdução
O texto acima, de José Bonifácio, conhecido como Patriarca da Independência do Brasil, demonstra que, desde aquela época, a vontade prevalecente, pelo menos naqueles que foram os responsáveis pela independência e pela formação do novo País, era de que o Brasil fosse um país de tolerância, amor e fraternidade.

Como veremos, ao longo desta e das próximas publicações, também esse é o sonho de nossa Umbanda. Quando o Caboclo da Sete Encruzilhadas chegou pela primeira vez na mesa kardecista, da Aliança Espírita do Rio de Janeiro, no dia 15 de novembro de 1908, ele e as entidades que com ele chegaram não foram aceitas por se identificarem como Caboclos e Pretos Velhos. Então ele anunciou que no dia seguinte, na casa de seu aparelho, seria anunciada por ele uma nova Religião, onde todos espíritos, independente daquilo que haviam sido em encarnações passadas ou da vestimenta com que se apresentassem, poderiam se manifestar e trabalhar para a caridade. A nossa semente, plantada naquela noite de 15 de novembro de 1908, em Niterói, foi a da igualdade, da fraternidade entre irmãos, da caridade e do amor ao próximo. Ser, hoje, filho de Umbanda é, antes de qualquer coisa, cumprir com todas as determinações daquelas primeiras entidades, enviadas pelo plano espiritual, para dar seguimento a um trabalho cristão, sem preconceitos de qualquer espécie. Ser filho de Umbanda, hoje, é poder dizer, como disse Paulo, “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”. Timóteo 2 4:7 Mas, o que é o bom combate na Umbanda? É a prática da caridade, é o amor em ação, é estar disponível sempre para o trabalhos das entidades, é deixar de lado as futilidades de uma sociedade sem Cristo, é respeitar as diferenças entre as pessoas, sejam elas religiosas, de gênero, de classe social; é compreender que não somos, nenhum de nós, melhores que os outros, mas tão somente diferentes; é não querer usufruir de ganhos materiais com um trabalho que não é seu, e sim das entidades; é respeitar a natureza, expressão máxima dos nossos Orixás. Para isso, é necessário ser um bom combatente, mas também sábio e amoroso, pois de nada valeria o filho umbandista que tivesse sabedoria, fosse amoroso, mas não combatesse o bom combate ou que quisesse ser um bom combatente, mas que discriminasse seus irmãos.

Liberdade Religiosa
“Seria negar a Deus os atributos de inteligência e justiça admitirmos que o Criador fosse capaz de desprezar ou punir as suas criaturas porque não o amam do mesmo modo, orando com as mesmas palavras, seguindo os mesmos ritos. - Leal de Souza[2] 

A fé religiosa é inerente ao ser humano e traz consigo um grande poder de humanização.  Várias experiências foram feitas cientificamente que demonstraram, por exemplo, que a fé e a oração são alguns dos elementos curadores mais importantes. Por outro lado, a fé, sem o fanatismo dos fundamentalistas, faz com que as pessoas desenvolvam maior senso de justiça, mais amor e mais tolerância. Já a oração com fé nos conecta com o plano espiritual, levando nossas necessidades e dificuldades para que de lá venham a intuição e a força para as superarmos. Em nossas vidas poucas são as coisas que podemos definir como milagres. As Entidades, os Santos, o Cristo, nos ajudam dando-nos força, intuição e persistência para superarmos os obstáculos, mas não podem mudar nossas vidas. Somente uma pessoa pode mudar nossas vidas, nós mesmos.

Se nos propomos falar sobre liberdade religiosa e tolerância, é porque a liberdade está restringida em muitos lugares e a intolerância existe como um problema para comunidades e etnias. Os homens continuam preconceituosos, o que leva às guerras religiosas, em nome de Deus, mas na verdade elas sempre foram fundamentadas em questões ideológicas, políticas e econômicas.  Hoje mesmo, falsamente, em nome de Deus ou em convicções religiosas, se mata cruelmente e massivamente na Europa, na Síria, no Iraque, na Turquia, em Israel, na Palestina, e em muitos outros países e continentes. O terrorismo em nome de Deus continua matando, ferindo ou expulsando inocentes no mundo inteiro. Assim, como faziam os Templários, com a convicção de que era seu dever defender a verdade católica, como se ela fosse algo superior à dignidade das pessoas que pensam diferente, hoje, os intolerantes religiosos, agridem, ferem e matam aqueles que cultuam ao mesmo Deus, só que de forma diferente. Na época dos Templários o que era importante era encher o erário, o tesouro do rei da França e de sua casta religiosa. Isto mesmo é feito hoje pelos fundamentalistas que servem muito a interesses econômicos e à sede de poder de determinadas castas e elites. A ironia de tudo isto é o fato de esses conflitos acontecerem com tanta virulência pois supõe-se que as religiões devem centrar-se no desenvolvimento de valores espirituais como o amor e o respeito aos irmãos, enfim, a todos os seres humanos e à natureza.

Não nos esqueçamos que todos os textos sagrados, inclusive o Evangelho de Cristo, apareceram em sociedades totalmente diferentes das atuais, com estágios diferentes de desenvolvimento espiritual e com diferentes níveis de conhecimento e cultura. Mas, mesmo assim, Jesus sempre pregou o amor, a caridade e a tolerância. Desta, a tolerância, o exemplo maior dado por Cristo foi o caso da mulher pega em adultério (João 8,1-11).

No que concerne à nossa religião, vemos que as religiões mais antigas se consideram proprietárias de Cristo, e o que é pior, nem as outras religiões e, muitas vezes, nem Igrejas da mesma confissão são respeitadas, pois seus condutores falam que somente a “sua” Igreja é a certa. Ou seja, nestes casos, a Igreja, o Templo, o Terreiro, não seriam para cultuar Cristo, mas o pastor, o sacerdote, o pai de terreiro e outros que, pela sua pretensa sabedoria e pela sua perfeição, já que assim se apresentam, tornar-se-iam os supostos melhores mensageiros de Cristo.

SOBRE ESTE TEMA CONTINUAREMOS NA PRÓXIMA POSTAGEM.


[1]José Bonifácio, o Patriarca da Independência”, de Venâncio F. Neiva, Irmãos Pongetti Editores, 305 pp., RJ, 1938, ver p. 278.


[2]Leal de Souza - No mundo dos Espíritos, 1932 Ed.  Liceu de Artes e Ofícios – RJ