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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

HISTÓRIA DA UMBANDA 5




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                                 HISTÓRIA DA UMBANDA 5

A criação do CONDU

O Conselho Nacional Deliberativo de Umbanda, foi criado em 1967, no dia 12 de setembro, com a finalidade de congregar as Federações de Umbanda, existentes em todo o País. Reconheceu, em 1977, em acordo com a história da Umbanda, a nossa religião como tendo sua origem no Brasil e que ela foi anunciada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, em 1908.

Anteriormente a essa decisão, tendo em vista a diversidade de Terreiros, tanto de Candomblé como de Umbanda, que faziam parte das Federações de Umbanda nas diferentes unidades da federação brasileira, o CONDU evitava se posicionar. Àquela época – por uma necessidade incompreensível de fazer a Umbanda importante – criava-se uma série de falsas origens da Umbanda. Aliada a essa preocupação, havia também outras que eram:
·        a primeira tornar a Umbanda mais branca, porque a ideia que prevalecia era de que a origem da Umbanda era africana;
·        e a segunda era torna-la mais hermética e velada  e, para isso, uns diziam que ela havia nascido na Lemúria, hipotético continente perdido, localizado no Oceano Índico ou no Oceano Pacífico, e outros diziam ser da Atlântida uma lendária ilha ou continente cuja primeira menção conhecida remonta a Platão em suas obras Timeu e Crítias;
·        caminhando na mesma direção, algumas pessoas diziam que o Caboclo ao anunciar nossa religião, teria dito que ela chamaria Alabanda, outros que seria Aum-Bandã, todos com a finalidade de buscar uma capa de antiguidade à religião;
·        muitos utilizavam para denominar o Deus na Umbanda, nomes indianos, como Atma ou Atmã.

Atma foi copiado de uma das vertentes da filosofia hinduísta é a centelha que habita em nós. Isso quer dizer que, em cada um de nós e em todas as outras coisas do universo, está presente uma pequena fagulha de Deus, afirmativa que, com ligeiras diferenças, concordamos.

Na verdade, tudo isso fazia parte de um preconceito e da necessidade individual dos líderes desses movimentos, de superar um complexo de inferioridade com relação à nossa religião. Certa vez, conversando com um destes umbandistas, figura aliás respeitável pelo que fez no CONDU, ele nos disse que segundo o pensamento deles, precisávamos que a Umbanda subisse de categoria. Devemos lembrar que esse complexo ainda existe em muitos umbandistas, em especial em determinados Pais de Terreiro, que dizem que vão fazer cabeça no Candomblé para ficar mais fortes e com maior sabedoria.

Não existe essa possibilidade que alegam. Primeiro por que quem trabalha na Umbanda são os Guias, as Almas; segundo por que qualquer rito ou iniciação que alguém aprender no Candomblé nada tem a ver com a Umbanda e somente desvirtuará um Terreiro de Umbanda, não lhe acrescentando, nem ao Terreiro, qualquer força ou sabedoria; se alguma coisa referente ao ritual do Candomblé for colocada no ritual de Umbanda, ele estará deixando de fazer Umbanda, já que dentro de um ritual de Candomblé o que prevalece, embora existam atendimentos, são o jogo de búzios e as suas festas, feituras, obrigações e oferendas, enquanto na Umbanda o que faz com que se cumpra seu objetivo, são as reuniões de atendimento com as entidades.

Em 1958, Omolubá e Israel Cisneiros, que já conheciam a história da Umbanda, resolveram entrevistar Zélio Fernandino de Moraes, com a finalidade de homenageá-lo pelo cinquentenário da Umbanda. Essa entrevista foi publicada na revista Seleções de Umbanda, editada pelo próprio Omolubá, tendo sido a primeira publicação de nossa história em uma revista de Umbanda. Quase vinte anos após este fato, participando do CONDU, este batalhador umbandista, que foi o chefe da Roça Estrela Guia de Omolu das Almas, com a participação de Lília Ribeiro, jornalista e chefe da Tenda de Umbanda Luz Esperança e Fraternidade, de quem já falamos, e que foi a principal repórter do início da Umbanda – dando sequência ao trabalho de Leal de Souza – conseguiu vencer as resistências no CONDU e, em função do trabalho dos dois, foi reconhecida a origem da Umbanda no Brasil, através da mediunidade de Zélio Fernandino de Moraes, divulgando, em agosto de 1977, um  trabalho, sobre as verdadeiras origens da Umbanda falando da história de Zélio de Moraes.

A lei reconhecendo a Umbanda como Religião

Em 1941, foi realizado o “Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda” e nele foi apresentada uma tese pela Tenda S. Jerônimo, propondo a descriminalização da prática dos rituais de Umbanda.  O autor, Dr. Jayme Madruga, a par de um minucioso estudo de todas as constituições já colocadas em vigência no Brasil, buscou também em projetos como o da Constituição Farroupilha e nos códigos penais até então vigentes e no que haveria de vigorar após 01 de janeiro de l942. O caminho da Umbanda começava a ser aberto e caberia aos Umbandistas buscar acelerar o processo com declarações e resoluções partindo daquele congresso, em prol da descriminalização da prática da Umbanda.

Em 1944, vários umbandistas ilustres, entre eles vários militares, políticos, intelectuais e jornalistas, apresentam ao então Presidente Getúlio Vargas um documento intitulado “O Culto da Umbanda em Face da Lei” e, a partir daí, é conseguida, daquela autoridade, a descriminalização da Umbanda. Este fato, que foi extremamente positivo, trouxe, como subproduto, uma perda de identidade muito grande por parte de nossa religião, já que todos terreiros, das mais variadas tendências e outras seitas, incluíram em seus nomes a palavra Umbanda como forma de fugir à repressão policial. 

Como a nossa religião, nessa época, não tinha um rito claramente definido e nem a formação de sacerdotes ficou à mercê dessa deturpação; outro fato que fortaleceu essa descaracterização foi que, sendo um período de crescimento, não se buscava a qualidade dos Terreiros que se filiavam à Federação, ou à União que lhe sucedeu, ou ao CONDU através das Federações estaduais, sendo aceitas Tendas, Centros e Terreiros de outras origens, inclusive não cristãs, colocando todas sob o nome de Umbanda.

Afirmação Doutrinária e Religiosa

Como se sabe a história nunca se faz com rupturas drásticas entre um período e outro. Todas as mudanças são anunciadas ao longo do próprio período a ser substituído, por fatos, acontecimentos e conhecimentos, todos novos, e que começam a acorrer antes da nova era e ao longo dos primeiros tempos do período que se inicia.  Assim também aconteceu com a Umbanda.  Ao longo das décadas de 40, 50 60 e 70, vários autores começaram a buscar dar maior consistência doutrinária à Umbanda.  Porém, como todas as coisas ocorrem em seu devido tempo, quase todas as tentativas pecaram por buscar explicações para as origens e os princípios de Umbanda em eras passadas, continentes desaparecidos ou em línguas mortas; outro fato que levou a um fracionamento da Umbanda e às misturas a que fizemos menção anteriormente, foi a pretensão de cada autor, sacerdote, ou pai de terreiro, de criar sua própria religião, dando um cunho profundamente personalista aos seus terreiros. Na verdade, isso ocorre até hoje, n/os principais estados do Brasil.

Alguns dos precursores da Umbanda, cumpriram, no entanto, seu papel ao colocar cada vez mais clara a importância da Umbanda no Brasil, assim como sua verdadeira origem.  Em 1978, vem à luz o livro “Fundamentos de Umbanda - Revelação Religiosa”, de Israel Cisneiros e Omolubá, que vem colocar nos seus devidos lugares a/s questões da origem e da hierarquia na Umbanda. Embora não estejamos de acordo com tudo que ali é colocado e sabedor de que esse livro não é a palavra final sobre a hierarquia e os ritos de Umbanda, reconhecemos, no entanto, que ele é o primeiro que se aprofundou nesses temas para que os umbandistas pudessem meditar sobre eles. Naquele momento, que pode ser definido como o início desse período de afirmação, assume-se a Umbanda como religião brasileira e, como dissemos, através desse livro, começa o primeiro movimento consistente para dar a ela uma base ritualística e de sua hierarquia. Autores, que já haviam escrito sobre a Umbanda, mas sem ter esse como o foco principal, são muito conhecidos por outras obras, como, por exemplo, Cavalcanti Bandeira, José Fonseca, Emmanuel Zespo, Matta e Silva e muitos outros que, incontestavelmente, dão continuidade ao movimento de consolidação da filosofia e teologia de Umbanda. No entanto, em nenhum se encontra a criação de uma hierarquia, baseada na formação sacerdotal, fundamental para a manutenção das bases ritualísticas e conceituais.