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terça-feira, 26 de maio de 2020

A IMPORTÂNCIA DO RITUAL RELIGIOSO






A IMPORTÂNCIA DO RITUAL RELIGIOSO

Segunda parte

Devemos lembrar que para os trabalhos – feitiços, demandas – feitos para prejudicar, aqueles que o fazem não precisam ter contato físico com as pessoas a serem prejudicadas. Para desfazê-las, também a magia a ser empregada pela entidade, para ajudar àquele que pede a proteção, deverá também ser forte o suficiente para eliminá-los mesmo à distância, sem contato com quem fez aquilo.

Os rituais religiosos também são importantes para que vejamos que tudo na nossa vida tem uma ligação externa, que muitas vezes não percebemos. Numa sociedade onde as pessoas estão cada vez mais isoladas, onde prevalece o egoísmo, os rituais nos trazem um sentimento de pertencimento, de aconchego, de proximidade com algo que, além de nós, seres humanos, existe e que não sabemos o que é; alguém, alguma energia, que não sabemos quem é nem de onde vem; descobrimos que não temos uma compreensão plena de quem somos, do que é a vida, de onde ela vem e para que serve. Será a vida somente para batalharmos nossas vitórias materiais ou devemos buscar coisas mais sutis como a espiritualidade?

Na Umbanda, os rituais, até pela presença dos Orixás, como forças da natureza, nos mostram que somos parte de algo muito mais importante do que um ego ou mesmo um aglomerado humano. Percebemos, que nossa presença no mundo não nos foi dada para que fôssemos donos da natureza, mas parte dela. Pela presença das Almas, com quem nos comunicamos em nossos rituais, sentimos que somos mais do que a matéria visível e que a nossa parte mais importante é invisível, como o são as Almas que trabalham para o nosso bem na Umbanda. Enfim, começamos a perceber que no nosso dia a dia somos mais do que nossos rituais laicos nos mostram, que o sagrado está sempre presente em nossas vidas, não importando o lugar onde nos encontremos.

A prática dos rituais religiosos, nos abre a possibilidade de perceber que temos capacidade de nos ligarmos ao Alto, ao Universo, à Energia Divina. Estas palavras, Alto, Universo e Energia Divina, estão longe de representar, fielmente, Deus. A palavra teologia em si já traz em si uma certa prepotência do homem já que se a analisarmos, etimologicamente, significa estudo de Deus. Estamos acostumados a conhecer o homem sempre em relação a alguma coisa material ou à natureza. No entanto, Deus está acima de tudo isso. Podemos até falar sobre Ele, mas Ele está acima de qualquer coisa, da natureza e, por isso, não podemos estudá-lo. Deus é onipotente, onisciente, onipresente. Enquanto o homem se encontra em um patamar de finitude, Deus é Infinito. Como pode o finito compreender o infinito? Estamos muito acostumados a usar palavras como finito e infinito, máximo e mínimo, mas não pensamos o que elas representam de verdade. O máximo, por exemplo, o que é? Estamos acostumados a dizer: fiz o máximo para resolver isso ou aquilo; mas eu me esqueço que eu sou finito, imperfeito, então esse máximo é somente uma expressão coloquial. O verdadeiro sentido de máximo é o de plenitude, ou seja, algo ao qual, em nenhuma hipótese se pode acrescentar algo. O infinito, por sua vez, é algo transcendental, pois está fora da compreensão do homem, finito.  Um cardeal, teólogo e filósofo alemão, Nicolau de Cusa[1], ficou famoso pelo que se convencionou chamar de “teologia negativa”[2]. Essa teologia, em contraposição à teologia romana, ia na contramão do misticismo, que coloca o Deus antropomorfizado presente o suficiente para que os humanos falassem com ele. Ela se baseava no fato de que não podemos compreender ou conhecer Deus, pois Ele se encontra muito além da nossa inteligência, ele é incompreensível e supera totalmente a nossa razão.  Somente podemos perceber Deus se o aceitarmos como a causa universal de todas as coisas criadas.

Entretanto, ainda assim, não o conheceremos, mas poderemos nos contatar com a Energia que dele provém: a Energia Divina. Os rituais religiosos nos mostram que, na medida em que os praticamos e neles mergulhamos com a mente e o coração, podemos ser melhores do que somos. A espiritualidade nos modifica e nos infunde novos valores. Quando mergulhamos, a fundo nos nossos rituais religiosos, começamos a perceber o que eles, realmente, nos querem mostrar. Nosso caminho de evolução vai se tornando mais claro e mais fácil de ser trilhado, pois estamos fazendo algo que nos fala ao espírito, estamos seguindo a nossa fé, estamos cultuando a Energia que nos vivifica.




[1]Nicolau de Cusa[1]1401 d.C., Cusa - Alemanha - 1464 d.C., Úmbria - Itália ​
[2]A teologia negativa ou apofática tem o seu nome proveniente dos termos (apofatico – catafático) adotados de Aristóteles em sua lógica, indicando, respectivamente a negação e a afirmação no interior do enunciado do discurso. A teologia apofática é o modo de pensar Deus e falar-lhe através da negação: Deus está colocado além da criação e por isso, nenhuma definição pode ser dada adequadamente sobre a Divindade. www3.unisi.it/ricerca/prog/fil-med.../teologia_negativa.htm