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terça-feira, 20 de agosto de 2019

LIBERDADE RELIGIOSA




LIBERDADE RELIGIOSA

Uma demonstração pública de intolerância religiosa foi o livro do bispo Edir Macedo, "Orixás, Caboclos e Guias, deuses ou demônios?",   contra o qual foi proposta uma ação civil pública, pelo Ministério Público Federal - MPF que buscou na Justiça Federal da Bahia retirar de circulação esse livro que segundo o MPF, atenta contra o respeito à liberdade de crença e religião, bem como estimula a intolerância religiosa e a segregação por motivo de crença religiosa, por parte dos seguidores da Igreja Universal.

As passagens citadas na Ação Civil Pública lançam verdadeiras injúrias contra os que eles chamam de "seitas do demônio". Vejam abaixo alguns trechos dessas ridículas e criminosas considerações.

"A pomba-gira causa em muitas mulheres o câncer de útero, ovário, frigidez sexual e outras doenças. À sua atuação atribui-se (sic.) comportamentos ligados à práticas sexuais ilícitas e outras situações ligadas à sensualidade pecaminosa." (pg.36, sem grifos)

“Umbanda, Quimbanda e Candomblé” “Essas facções do espiritismo colocam sobre seus adeptos os mais pesados fardos e receitam as mais estranhas `obrigações' para aqueles que procuram seus favores. Tais obrigações têm as mais diversas finalidades; desde matar uma pessoa até destruir o casamento de alguém." (pg. 104, sem grifos).

"Dentre os que procuram os terreiros para fechar os corpos, a sua maioria se compõe de criminosos, contraventores, prostitutas, homossexuais (?), etc." (pg. 112, sem grifos e sem observação).

"Todas as pessoas que se alimentam com pratos vendidos pelas famosas baianas estão sujeitas mais cedo ou mais tarde a sofrer do estômago. Quase todas essas baianas são filhas-de-santo ou mães-de-santo que 'trabalham' a comida para terem boa venda. Algumas pessoas chegam a vomitar as coisas que comeram..." (pg. 48).

"Umbanda, Quimbanda, Candomblé, Kardecismo, Bezerra de Menezes, Esoterismo etc., são apenas nomes de seitas e filosofias usadas pelos demônios para se apoderarem das pessoas que a eles recorrem..." (pg. 44).

"O homem tem toda a liberdade para escolher entre servir a Deus e servir ao diabo. Ele pode ser templo do Espírito Santo ou cavalo, burrinho, aparelho, porteira de um exu, um caboclo ou demônios semelhantes." (pg. 33).

"Os maiores médicos do Rio de Janeiro já chegaram à conclusão que (sic) o espiritismo é a maior fábrica de loucos que existe. Infelizmente, alguns aproveitadores ou sensacionalistas ainda dão ênfase a esta pouca vergonha, indo nos programas de televisão e rádio, bem como nos jornais, dando apoio à patifaria e a imundície que está por detrás disso tudo." (pg. 66, sem grifos).

... Assim, os espíritos vão "brincando de pique" ou "esconde-esconde" nos seus corpos até que são chamadas para "desenvolver", e então prestar "caridade". (pg. 67).

"Você entenderá então por que combatemos o espiritismo e todas as suas ramificações com todas as nossas forças. Essa religião tão popular no Brasil é uma fábrica de loucos e uma agência onde se tira o passaporte para morte e uma viagem para o inferno." (pg. 79, sem grifos).

"Nossa experiência nos leva a crer que um dos pontos fundamentais para a libertação de uma pessoa está no fato dela se desligar totalmente das companhias que não professam a mesma fé." (pg. 135, sem grifos).

A decisão em primeira instância foi pela retirada de circulação da obra, mas em segunda instância foi revogada sobre a argumentação que retirar o livro seria um atentado à liberdade de expressão. Ora, essa argumentação é absolutamente incabível, por várias razões. A primeira delas é que o direito de alguém termina onde começa o do outro e ao ofender as outras religiões como faz o autor há uma clara invasão à liberdade de crença religiosa além de haver manipulação da verdade. A segunda é que se esse argumento prosperar, amanhã, em qualquer ação de injúria, calúnia e difamação poderá o advogado de defesa sustentar a tese de que qualquer punição seria uma coerção ao direito de expressão. A liberdade religiosa não se constitui em impunidade religiosa pois as igrejas devem estar sujeitas às leis do respectivo país. A linha sobre o que é liberdade religiosa e o que é criminalidade religiosa deve ser bem demarcada. As atividades de todas as religiões devem ser observadas atentamente para que os cidadãos não sejam vítimas da sua própria credulidade e, por consequência, serem manipuladas por pessoas de caráter duvidoso.

Não há leis de Deus determinando que os que pretendem falar em seu nome devem ser isentos perante as leis terrenas. Na verdade, eles têm de estar sujeitos às mesmas leis dos restantes cidadãos. Assim, dever-se-ia proceder judicialmente contra as religiões organizadas cuja política é esconder os casos de crimes perpetrados por seus membros, pela política de obstrução da justiça e pelas agressões e preconceitos contra outras religiões, seus objetos sagrados ou contra seus adeptos. Desta forma, a liberdade religiosa no Brasil, se bem que legalmente ela exista, é, na prática, ilusória, do ponto de vista da defesa dessa liberdade pelo Estado e da repressão aos violadores da lei. O preconceito religioso, tal qual outros, como os de gênero, de cor e outros em nosso país, são escondidos com uma capa que pode ser de falsa legalidade ou de falsa moralidade que nos impedem de ver a realidade de nossa sociedade preconceituosa.