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segunda-feira, 30 de março de 2020

O RITUAL Segunda parte

             

                       

O RITUAL
Segunda parte

Nas civilizações primitivas também existiam rituais. Citemos aqui os de passagem, quando o jovem aos olhos de sua tribo se tornava um homem; o do casamento, os funerários e outros. Não vamos entrar detalhadamente nesses rituais, pois, aqui, o que nos interessa é mostrar que não podemos ser contrários aos rituais, pois não somos intocáveis por eles, nossa vida é um grande ritual cheio de rituais menores.

Nas religiões não espiritualistas, o ritual tem como finalidade, em primeiro lugar, louvar a Deus – que embora único, cada religião acha que o seu é que é o verdadeiro e o cultua de forma diferente. Outro objetivo desses rituais religiosos são: ministrar sacramentos, que vão do batismo à extrema unção, celebrar casamentos, bodas de vários tipos, papel, madeira, prata, ouro, etc. Dentro desses rituais existem gestos, palavras, bênçãos, utilização de elementos materiais, tais como a água, a vela e outros que fazem parte da liturgia daquelas religiões.

Imaginemos, agora, que nenhum ritual houvesse, em momentos importantes para cada ser humano. A noiva não se casaria com pompa, não trajaria um vestido de noiva, não jogaria o buquê, não faria fotos como lembranças, não teria todos que gostam dela ali ao seu lado; imaginemos também que nenhum ritual houvesse para apresentar um recém-nascido em uma religião; ou que não houvesse uma reunião de formatura para entrega do certificado. O que aconteceria? Todos os esforços para chegar até aquele momento pareceriam vãos, sem sentido pois não haveria ninguém para compartilhar nosso sucesso ou nossa alegria. Imaginem que não houvesse uma extrema-unção e um ritual fúnebre, e simplesmente, atirássemos na natureza, em um rio, em uma mata, ou coisa parecida o corpo de um nosso ente querido. Será que assim fecharíamos em nossa vida, em nossas emoções e em nossa mente aquela perda? Claro que não.

Creio que esses exemplos são suficientes para demonstrar a importância do ritual para o homem como um ser coletivo. Os rituais servem ao conjunto de crenças, sentimentos, saberes e valores, que permeiam uma sociedade e são formas de fazer daquela sociedade, das quais ninguém está imune. Este conjunto de valores é aquilo que podemos chamar de consciência coletiva de uma sociedade, pois os seus participantes nascem, vivem e morrem, mas a consciência coletiva permanece, claro que com as mudanças propiciadas pelo tempo, mas permanece. É a herança que recebemos de nossos ancestrais.

I.            A importância do ritual religioso

O ritual religioso é uma sequência de atos e práticas ordenadas e padronizadas, podendo ser em silêncio ou não, com palavras que sempre são ditas acompanhadas de gestos e atividades, os quais são habituais e obrigatórios e que para a sua execução são utilizados objetos, recursos e conteúdo das mais diversas raízes. Existem, vinculados às religiões, aqueles que são de cunho verdadeiramente religioso e aqueles que são de cunho mágico. Um ritual religioso é, por exemplo, a Gira de Umbanda em si. O abrir, o desenrolar e o fechar a Gira, são momentos religiosos da Umbanda. Já o trabalho das Entidades, aquilo que é feito em benefício do fiel e que ele efetivamente recebe é algo mágico, milagroso, sobrenatural. A finalidade do ritual religioso em nossa religião é propiciar relação entre os espíritos encarnados com o plano espiritual e com a Energia Divina –Deus, Olorum ou Zambi. Ele é a chave que abre essa comunicação entre o plano físico e o astral.

Na Umbanda esses momentos mágicos acontecem desde a hora em que o médium ou o fiel entra na Casa, na Tenda. O coração se acalma, a mente se aquieta, o sentimento de aconchego prepondera e, na maioria das vezes, a calma e a tranquilidade são tão grandes que os fiéis e os médiuns, ao início do Evangelho estão bocejando, pelo relaxamento que sentem.

Um exemplo, de ritual mágico, muito comum, na Umbanda, é quando se faz um trabalho para abertura de caminhos de um filho ou fiel. Também quando as entidades intuem ou veem que um filho está sendo prejudicado por algum trabalho contra ele, elas podem fazer um outro para eliminar os malefícios que estão sendo causados àquele filho. Nesse caso, a magia é, quase sempre, feita usando elementos semelhantes aos que foram ou podem ter sido usados para embaralhar os caminhos daquela pessoa, caso tenha havido algum trabalho nesse sentido. Se a entidade vê que foi usado sangue, ele pede um sangue vegetal, que pode ser água de coco ou o sumo de frutas ou uma decocção de ervas ou o azeite de dendê ou a cachaça. Se foi usada carne, ela pode pedir polpa, pedaços ou frutas inteiras para o trabalho. Se ervas foram usadas para fechar os caminhos ela pode pedir ervas de descarrego, aberturas de caminhos ou para vencer demandas.

terça-feira, 17 de março de 2020

O RITUAL Primeira parte




             
I.                                                               O RITUAL 

 PARTE I

Muitos dos adeptos das diferentes religiões, inclusive da nossa, seguem seus rituais de forma mecânica, sem atentar para o que eles significam e das portas que podem abrir. Na Umbanda, por exemplo, o ritual de abertura de uma Gira tem como finalidade comunicar ao Plano Espiritual que os trabalhos vão se iniciar. É como uma chave que abre as portas do nosso plano para o Plano das Entidades.

Além disso, um ritual serve, no plano individual, como um canal que nos levará a aprimorar nossa própria prática de comunicação com o Plano Superior. A partir dele, podemos caminhar mais celeremente em nossa evolução espiritual, pois esse ritual nos introduz de maneira mais sólida nessa senda. A repetição dele, dia após dia, torna mais fácil a nossa experiência de ligação com o plano superior e, com isso, vai expandindo nossa mediunidade, a compreensão de nossa religião e da espiritualidade. Ordens religiosas e esotéricas diversas usam essas repetições ritualísticas, em seus templos, visando aumentar a ligação com o Plano Astral. Na nossa cultura, a grande maioria do povo tão acostumado com ir à missa, que nem sequer percebe que na sua essência ela não muda, assim como não mudam seus passos ritualísticos. A única coisa que chama a atenção de alguns católicos, quando chama, é que os paramentos do Padre mudam de cor, e eles, na verdade, nem sabem o porquê. Da mesma forma, na Umbanda, muitos filhos entram no Templo e ficam divagando sobre as coisas que ocorreram no dia e nem se dão conta do que está sendo feito. Quantas vezes vemos filhos de Terreiros fazendo perguntas que se ele tivesse um mínimo de concentração durante a Gira, ele não as faria por tão obvias as respostas para aqueles que estão atentos aos ritos.

Quando seguidos com perseverança e fé, os rituais abrem para nós diversas oportunidades de autoconhecimento e de elevação e nos trazem força e confiança para as batalhas que devemos vivenciar no dia a dia. O ritual, em si, é um caminho, não um objetivo, e, no âmbito de uma religião, eles podem nos fazer transcender e ampliar nossos conhecimentos e experiências. Porém, isso somente acontece se, o seguir o ritual, não for somente uma ação repetitiva e mecânica pois, se isso acontecer, o fiel não alcançará o sagrado.

O ritual, em qualquer religião, é conformado pelo culto religioso, pela cerimônia e pela liturgia. Embora cada um desses termos tenha significados e alcances diferentes, eles em si podem também ser chamados de rituais daquela religião. A liturgia é o conjunto dos elementos e práticas do culto religioso. Na Igreja Católica, na qual praticamente todas as famílias brasileiras têm suas raízes religiosas, são as missas, os paramentos, os sacramentos e seus objetos de culto, tais como as imagens de seus santos, o sacrário, enfim tudo aquilo que está intimamente ligado à sua crença.

Na Umbanda nosso ritual é formado pelas nossas Giras, pela forma como as conduzimos, pelas Iniciações que fazemos, pelos Sacramentos que ministramos, pelas roupas que usamos – que correspondem aos paramentos de outras Igrejas – pelos atabaques, quando o Terreiro os tem. Devemos ter sempre presente que a Umbanda não tem um ritual unificado e que cada Casa tem o seu. Um não é melhor nem pior que o outro, é somente diferente. Certa vez o Caboclo das Sete Encruzilhadas foi interpelado por pessoas, dentro da Tenda Nossa Senhora da Piedade, a respeito de Terreiros que estavam sendo formados sem sua autorização ou beneplácito. Ele respondeu com uma única e simples resposta: “A Umbanda não tem um Papa e se um dia tiver ela acabará”. Isso é de uma lógica e de uma clareza incontestável. Cada Terreiro tem suas Entidades, seus filhos, seus fiéis e, principalmente, seus Chefes terrenos, trazendo esses últimos aprendizados distintos uns dos outros.

Dentro da nossa liturgia, temos ainda nossos Pontos – riscados e cantados – nossas Toalhas, nossas Guias, nossas imagens de Oxalá, dos nossos Pretos Velhos, dos nossos Caboclos e, muitas vezes, imagens de Santos católicos sincretizados com os Orixás e daqueles que, na maioria das vezes, são da devoção dos chefes do terreiro.

Cada ritual possui seu significado próprio que não pode ser substituído por um outro qualquer, nem ser a cada gira um diferente do anterior, já que, como diz Ramatis[1], o ritual é a chave que a Umbanda usa para abrir a comunicação com o Plano Astral. Se não temos um ritual fixo como abriremos nossas comunicações, com dizer ao Plano Astral, “estamos aqui, vamos começar, nos assistam, nos protejam, manifestem-se.

Na Umbanda, quando cantamos um ponto, nós o cantamos em um momento certo, definido, com um objetivo. Ninguém vai cantar um ponto de Exu, sem que nem para quê, no meio de uma gira de saúde, ou um ponto de Oxalá no meio de uma gira de descarrego. Também, quando rezamos uma oração em uma cerimônia ou culto da Umbanda, ela é feita dentro de um ritual e com uma finalidade. Os passes, que as Entidades dão, também fazem parte do ritual de um Terreiro de Umbanda e cada um deles é um ritual em si, pois normalmente a entidade sempre o faz da mesma forma, com raríssimas e pequenas modificações. Neste último caso o ritual é da entidade, embora faça parte do da Umbanda. Assim, cada ritual tem um significado e um objetivo próprios.

Os rituais são extremamente importantes para todo homem. Querendo ou não nossa vida é cheia de rituais e nós todos – todos mesmo – temos nossas vidas demarcadas por vários rituais, religiosos ou não. Quando entramos na sala de uma pessoa, cumprimentamos e esperamos o convite para sentar. Isso é um ritual social. Se vamos a um banco e queremos sacar dinheiro, entramos na fila – normalmente ela existe – quando chegamos no caixa automáticos pegamos nosso cartão e lá introduzimos, etc. etc. etc. Este poderíamos chamar de um ritual socioeconômico. O simples levantar, pela manhã, é um ritual. Senão, vejamos. Acordamos, vamos ao banheiro, nos lavamos, escovamos os dentes, vestimos a roupa, vamos tomar café e por fim saímos para o trabalho. Com algumas exceções esse é o ritual geral da maioria das pessoas ao início do dia. O próprio Kardecismo tem o ritual de suas reuniões, embora digam que não aceitam ritual. Para iniciar a reunião entram todos em silêncio, cada um se dirige ao seu lugar, o presidente da mesa abre a reunião pedindo ou fazendo uma prece; se a reunião pretende receber mensagens os médiuns de psicografia se concentram e a partir daí começam a receber as comunicações dos espíritos, e assim por diante. Poderíamos ainda listar dezenas de rituais do nosso dia a dia, em nossa casa, em nosso trabalho, em nossas relações pessoais, em nossa vida.




[1] Ramatis – in Magia de Redenção