HISTÓRIA DA UMBANDA 2
No dia seguinte, na casa da família Moraes,
na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar a hora marcada, 20:00 h, lá
já estavam reunidos os membros da Federação Espírita, que queriam comprovar a
veracidade do que fora declarado na véspera. Estavam presentes também parentes
mais próximos, amigos, e vizinhos da família de Zélio e, do lado de fora, uma
multidão de desconhecidos que ninguém sabia como tinha chegado até ali.
Às 20:00 h, conforme havia dito, manifestou-se
o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se iniciava um
novo culto. Nele os espíritos de velhos africanos que haviam servido como
escravos e que agora se encontravam desencarnados iriam ter a oportunidade de desenvolver
os trabalhos necessários em benefício dos encarnados. Também, os indígenas
brasileiros fariam parte dessa nova religião, pois igualmente queriam ajudar
aos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo ou a condição social.
Entretanto, até aquele momento, essas Almas não encontravam campo de atuação nos
rituais remanescentes da cultura negra ou indígena, que haviam sido corrompidas
e estavam direcionados, em sua totalidade, para os trabalhos de feitiçaria. Daí
a necessidade dessa nova Religião.
O Caboclo estabeleceu as normas em que se
processaria o culto. Sessões, assim seriam chamados os períodos de trabalho
espiritual, diárias das 20:00 às 22:00 h; os participantes estariam
uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do Movimento
Religioso que se iniciava – UMBANDA
– que teria como definição a “Manifestação do Espírito para a Caridade”.
A primeira Tenda de Umbanda, para os trabalhos
espirituais, que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade. O
Caboclo das Sete Encruzilhadas explicou que esse era o nome porque assim como
Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos como filhos todos os
que necessitassem de ajuda ou de conforto.
Tão logo o Caboclo das Sete Encruzilhadas
deixou seu aparelho, chegou uma nova entidade, que não quis se sentar na mesa e
aceitou um toco que lhe foi oferecido. Perguntado sobre o que ele precisava
pediu apenas um cachimbo e o fumo. Era Pai Antônio, o primeiro Preto Velho a
chegar na Umbanda. Assim como o Caboclo definiu algumas normas básicas sobre
como deveria ser a Umbanda, Pai Antônio ditou regras claras e rígidas para a nova
religião.
·
Não haveria sacrifícios;
·
não haveria cobrança pelos atendimentos;
·
não se usaria os atabaques;
·
todos deveriam vestir branco,
·
todos deveriam, e estar com os pés no chão.
Esses
princípios todos tinham uma razão concreta.
Não haveria sacrifícios, pois, a partir do
sacrifício de Jesus todos os rituais cristãos deveriam ser incruentos ou seja, sem sangue. Além
disso, a vibração proveniente do sacrifício de animais e do sangue deles
retirado, atrairia entidades de baixa evolução, incompatíveis com a proposta da
nova religião de trabalhar pela caridade.
Não haveria cobrança por que o trabalho
seria das Entidades e não do médium que é apenas um aparelho para a sua manifestação,
e, também, por que o trabalho seria feito para caridade pura e simples.
Devemos lembrar que após vinte anos da
libertação dos escravos, os negros libertos que viviam nas cidades, sem nenhum
meio de subsistência, e sobreviviam, desde então, fazendo trabalhos de adivinhação,
previsão do futuro, leitura de mãos, curas, feitiços, etc. Daí a necessidade de
deixar claro essa questão da cobrança.
Todos os médiuns e cambonos que estivessem
dentro do Terreiro usariam o branco, assim como todos estariam com os pés no
chão, para exprimir a igualdade dos irmãos que iriam trabalhar no novo culto simbolizando,
portanto, a humildade.
Não seriam usados os atabaques. Esta
condição, de ordem absolutamente prática, teria como finalidade evitar que a
polícia localizasse as Casas onde se praticaria a Umbanda, pois naquela época
todo e qualquer ritual que não fosse católico era reprimido violentamente pela
polícia, com a destruição do local e prisão de seus participantes.
Apenas como um adendo, que corrobora,
através do Plano Espiritual, a história da origem da Umbanda. Em 1972, em
mensagem psicografada por Omolubá comunicada pelo poeta Ângelo de Lys, esse
espírito confirmou que a origem da Umbanda no Brasil se deu realmente através
do médium Zélio de Moraes.
Como podemos ver as duas entidades que
tomaram a frente, desde a origem da Umbanda, são o Preto Velho e o Caboclo. Por
essa razão, as entidades chefes de um terreiro de Umbanda são, normalmente, um
Preto Velho, um Caboclo, ou uma entidade de igual ou maior nível de evolução,
para que as normas ditadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas e por Pai
Antônio sejam seguidas fielmente. Também, por isso, o médium, para seu próprio
bem, deverá ter sempre uma destas duas entidades como responsável por ele ou,
como é dito, normalmente, ser uma destas duas entidades a dona da sua cabeça.
A partir de 1918, O Caboclo das Sete
Encruzilhadas ordenou que começassem a fundar novas Tendas, e, até 1935, sete
novas Tendas foram criadas, as quais veremos na tabela a seguir.
TENDAS
FUNDADAS SOB AS ORDENS DO CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS
Nome da Tenda
|
Presidente
|
Chefe Espiritual e Linha
|
Ano
|
Tenda N. Sra. da Conceição
|
Leal de Souza
|
Caboclo Corta Vento – Linha de Oxalá
|
l9l8
|
Tenda N. Sra. da Guia
|
Durval Braz
|
Caboclo Jaguaribe – Linha de Oxóssi
|
Antes de 1933
|
Tenda Santa Bárbara
|
João Salgado
|
Pai Elias
|
1933 - 1935
|
Tenda São Pedro (!)
|
Gabriela Dionísio Soares
José Meirelles Alves Moreira
Corina da Silva
|
Caboclo Sapoéba,
Pai Francisco” e “Pai Jobá.
Pai Vicente
|
Antes de 1927
|
Tenda Oxalá
|
Paulo Lavois
|
Pai Serafim
|
1933 - 1935
|
Tenda São Jorge
|
João Severino Ramos
|
Guia Espiritual Ogum de Timbiry
|
15/02/1935
|
Tenda São Jerônimo
|
José Álvares Pessoa
|
Caboclo da Lua – Linha de Xangô
|
l935
|
(i) A Tenda de São Pedro teve seguidamente a
mudança de presidentes por problemas de saúde ou particulares
Umbanda é caridade!
ResponderExcluirExatamente, filha. Que Oxalá a abençoe.
ResponderExcluirSUA BENÇÃO PAI,A HISTÓRIA DA UMBANDA,NOS DÁ A CERTEZA DE QUE É MUITO SÉRIA,E TOTALMENTE PARA A PRÁTICA DA CARIDADE.AS SETE TENDAS FUNDADAS PELA ORDEM DO CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS ATENDEM ATÉ HOJE???.
ResponderExcluirNA ÉPOCA OS TERREIROS TINHAM QUE TER O NOME DE TENDA OU PODERIAM TER OUTROS NOMES???
Que Oxalá a abençoe, filha. Das sete Tendas somente a de São Jorge continua ativa. A TULEF é originária da Tenda de São Jerônimo e continua atendendo. As demais já encerraram seus trabalhos e, até onde pudemos conhecer, não existe nenhuma descendente direta delas.
ResponderExcluirTenda foi o nome dado pelo Caboclo àquelas que foram originárias da Tenda N. Sra. da Piedade. Mas outras foram aparecendo, independentes, mas com a mesma filosofia e que tiveram, por exemplo o nome de Terreiro.