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segunda-feira, 29 de junho de 2020





A RELIGIÃO DE UMBANDA E SUA AFIRMAÇÃO

Podemos inferir, de tudo o que já foi dito, que estamos em pleno período de afirmação doutrinária da Umbanda.  Uma fase como essa não pode se restringir a negar conceitos.  Sabemos que na primeira fase, a de expansão, as grandes discussões da Umbanda se prendiam à sua origem (Vedas, Atlantes, Sumérios, etc.) ou da origem do próprio vocábulo (védico, sânscrito, celta etc.); essas buscas tinham o sentido de afirmar a Umbanda não como uma religião brasileira, mas, sim, como uma religião antiga, que voltava até nós, e por esse fato mais confiável. Hoje sabemos que esta discussão já se tornou ociosa, já não tem mais sentido, pois cada vertente de nossa Religião, já determinou em que acreditar. Devemos ressaltar que, mesmo aquelas vertentes que buscam resquícios de nossa Religião em épocas antigas, no passado milenar, hoje já têm como certo que o atual momento se iniciou com o seu anúncio pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. Assim, o período de afirmação doutrinária iniciou-se a partir do momento em que a evidência, de que era irrefutável que a origem brasileira da Umbanda. Por isso, como dissemos, mesmo aqueles que buscam na antiguidade a origem da Umbanda, já aceitam que a nossa religião realmente teve um renascimento no Brasil.  

A base filosófico-religiosa da Umbanda é, sem nenhuma dúvida, aquela pregada por Cristo, mesmo aqueles que acreditam no seu aparecimento na antiguidade, não podem negar essa afirmação, já que além de ser anunciada em uma mesa kardecista, portanto estudiosa do Evangelho, foi anunciada por um Caboclo que se identificou como um jesuíta em uma encarnação passada. Além disso, o Caboclo das Sete Encruzilhadas afirmou que esse movimento se iniciou no plano astral sob a orientação de Santo Agostinho. Essa fala encontra-se gravada e foi distribuída por Mãe Maria de Omolu, da Casa Branca de Oxalá, a todos que solicitaram, juntamente com muitas outras falas do Chefe – como é chamado o Caboclo na Tenda N. Sra. da Piedade.

Esses ensinamentos de Jesus Cristo, esposados pela Umbanda, ultrapassam vinte séculos como a maior força timoneira da humanidade na caminhada espiritual. Na verdade, antes de Jesus, entre os séculos V e II a.C. vários líderes religiosos essênios já apresentavam as bases daquilo que posteriormente veio a configurar a religião cristã. Dentre eles, figura o então chamado Mestre da Retidão, líder essênio, cujas orientações religiosas já adiantavam quase tudo o que Jesus viria a dizer. 

Se isso é verdade, porque razão Cristo foi quem marcou nosso mundo? Exatamente por sua missão Crística. E esta missão foi tão forte, tão inconteste, que a filosofia pregada por Cristo, do amor entre todos e de nossa filiação direta a Deus, além de marcar uma Era, marcou o calendário e se espalhou por todos os cantos do mundo.  Do extremo oriente ao ocidente, Cristo é hoje reconhecido como aquele que veio trazer a mensagem do Pai. Assim, a Umbanda não deve temer assumir Jesus Cristo como seu maior orientador.  Na verdade, Ele não é propriedade de nenhuma religião. Se buscarmos em alguns pensadores cristãos suas bases filosófico-religiosas veremos o quanto elas são compatíveis com a Umbanda, inclusive no que concerne à definição dada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, ou seja, “A manifestação do Espírito para a caridade”. Ao analisarmos com cuidado esses escritores, religiosos ou laicos, veremos ainda o quanto foi deturpada a mensagem que foi trazida por Jesus, por algumas Igrejas que hoje se apresentam como exclusivas representantes de Cristo. 

A esse argumento, somam-se outros de caráter filosófico e histórico.  O Caboclo das Sete Encruzilhadas sempre afirmou a presença na Umbanda da filosofia cristã; sempre se utilizou do Evangelho como apoio de suas pregações; enquanto o seu médium esteve vivo manteve a Umbanda dentro de seus princípios incruentos. No entanto, tal como todas as religiões que não possuem um líder máximo, a Umbanda esteve sempre sujeita a um processo de corrupção de sua doutrina e de seus rituais por pessoas mal-intencionadas. No entanto, isso não é exclusividade da nossa religião. Vemos isso também em várias religiões como o Kardecismo, o Candomblé e muitas Igrejas Neopentecostais, porque o que realmente acontece é a assunção ao posto de líderes, Sacerdotes, Pais de Terreiro e de Santo, Presidentes, Pastores, etc. de pessoas cujo único interesse é tirar vantagem daqueles que incautamente caem em sua conversa. Neste período de afirmação doutrinária, deveremos nos preocupar com pelo menos com três linhas de pensamento e atuação.

A primeira, é a afirmação dos princípios cristãos da Umbanda; a segunda, é um processo de afirmação do seu rito, depurado de todos atos que, por uma mistura indesejada, vieram descaracterizar a Umbanda; a terceira é a criação, naquelas Casas da verdadeira Umbanda, que ainda não o possuam, de um ritual de formação sacerdotal, visando ordenar sacerdotes que se comprometam com as duas primeiras vertentes. Aquelas Casas que tenham já o seu ritual, deverão mantê-lo e, se possível, aprimorá-lo, no sentido de formar sacerdotes que, além da espiritualidade e da religiosidade, se aperfeiçoem intelectualmente e que se comprometam com essas três linhas de afirmação doutrinária.

No tocante à primeira – afirmação dos princípios cristãos da Umbanda – devemos executar um trabalho de avaliação dos inúmeros livros com base na filosofia cristã para que, após um acurado estudo, assentarmos[1]as bases cristãs da Umbanda. É claro que outras doutrinas religiosas, construtivas, podem ser também aceitas, mas sempre dentro daqueles parâmetros cristãos, ou seja o amor e a caridade. Aproveito para deixar aqui, alguns princípios que deverão ser revistos na Umbanda.  Não se pode aceitar as interpretações que foram feitas do Evangelho de Cristo que conduzem seus ensinamentos a:

- Um Deus vingativo e punitivo;
- Inexistência da comunicação com as almas;
- O carma como punição divina;
- Inexistência da reencarnação.

Além disso, temos alguns princípios, verdadeiros dogmas, para que sejam melhor compreendidos pelos praticantes umbandistas:

- A autodeterminação: existência de “dois momentos” de livre arbítrio, um no preparo da nova encarnação e outro quando já encarnado, onde, no primeiro momento, o ser humano faz opções fundamentais a respeito de sua nova existência na terra e no segundo, quando já encarnado, seguir ou não o caminho previsto;

- Nós, como nossos próprios juízes, após nossa morte física: não devemos colocar na mão de qualquer divindade ou espíritos o nosso julgamento após a morte. Nós mesmos faremos isso. Quando já desencarnados e com a visão de todas as nossas existências, inclusive a que acabamos de deixar, faremos um balanço de tudo que fizemos, daquilo que conseguimos melhorar e de tudo o mais que ainda necessitamos de evoluir.

- A existência de um caminho de evolução para cada ser humano: a compreensão de que nosso espírito é portador de uma centelha divina que vai se iluminando, tal qual um diamante que vai sendo lapidado até se tornar um brilhante;

Esses três princípios, quando perfeitamente compreendidos pelos filhos de Umbanda, servirão de base a programação de suas próximas vidas encarnados.

Se nesses princípios se baseia a nossa programação de encarnações futuras, eles significam também que haverá um aperfeiçoamento permanente do espírito até chegar a um plano de desenvolvimento tal que não necessitará mais reencarnar-se na Terra.

- "Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo" como os mandamentos que definem a Umbanda; estes mandamentos representam a base cristã da Umbanda. Como definiu o Caboclo das Sete Encruzilhadas, a Umbanda é a manifestação dos espíritos para a caridade e somente seguindo esses dois mandamentos, definidos por Cristo como os maiores e mais importantes de todos, é que estaremos cumprindo nossa missão na Umbanda e em nossas vidas. Lembremos uma definição de Chico Xavier, quando lhe perguntaram o que era a caridade. Ele a definiu de modo muito simples: é o amor em ação.

Estas e outras questões devem ser buscadas tanto nos livros já existentes como, se nos for consentido, através de comunicações do Astral. Sabemos o quanto foi deturpada a pregação do Cristo; sabemos também o quanto o poder temporal superou a pregação da doutrina que nos foi trazida por Cristo, quando da formação da Igreja Católica; sabemos quantas “reformas” foram feitas nos Evangelhos em nome do fortalecimento desta mesma Igreja. Sabemos também o quanto o Evangelho segundo o Espiritismo traz no seu bojo a influência da comunicação de Almas que tiveram sua formação dentro do catolicismo. Por isso, pode parecer difícil esse processo de separação daquilo que foi verdadeiramente trazido por Cristo e aquilo que foi inserido em função de interesses da Igreja ou de seus codificadores. No entanto, já existem estudos feitos ao longo desses vinte séculos que permitem, enfim, fazer a separação do joio e do trigo, em grande parte das escrituras cristãs. Existem versões feitas diretamente do aramaico, do grego e do hebraico. Devemos estudar muito, mas, temos certeza de que a Umbanda, que é uma religião que possui muito poucos dogmas, terá a ajuda de seus guias e a sua doutrina aparecerá limpa, transparente, libertadora e, por fim, se afirmará.



[1] Não se trata de uma mera cópia ou da adoção de livros inteiros como representativos da filosofia umbandista, mas, sim, da produção de obras religiosas inspiradas pelo plano espiritual.