Liberdade
Religiosa
“Seria negar a Deus os atributos de inteligência e
justiça admitirmos que o Criador fosse capaz de desprezar ou punir as suas
criaturas porque não o amam do mesmo modo, orando com as mesmas palavras,
seguindo os mesmos ritos. - Leal de Souza[1]
A fé religiosa é inerente ao ser humano e traz
consigo um grande poder de humanização. Várias experiências foram
feitas cientificamente que demonstraram, por exemplo, que a fé e a oração são
alguns dos elementos curadores mais importantes. Por outro lado, a fé, sem o
fanatismo dos fundamentalistas, faz com que as pessoas desenvolvam maior senso
de justiça, mais amor e mais tolerância. Já a oração com fé nos conecta com o
plano espiritual, levando nossas necessidades e dificuldades para que de lá
venham a intuição e a força para as superarmos. Em nossas vidas poucas são as
coisas que podemos definir como milagres. As Entidades, os Santos, o Cristo,
nos ajudam dando-nos força, intuição e persistência para superarmos os
obstáculos, mas não podem mudar nossas vidas. Somente uma pessoa pode mudar
nossas vidas, nós mesmos.
Se nos propomos falar sobre liberdade religiosa e
tolerância, é porque a liberdade está restringida em muitos lugares e a
intolerância existe como um problema para comunidades e etnias. Os homens
continuam preconceituosos, o que leva às guerras religiosas, em nome de Deus,
mas na verdade elas sempre foram fundamentadas em questões ideológicas,
políticas e econômicas. Hoje mesmo, falsamente, em nome de Deus ou
em convicções religiosas, se mata cruelmente e massivamente na Europa, na
Síria, no Iraque, na Turquia, em Israel, na Palestina, e em muitos outros
países e continentes. O terrorismo em nome de Deus continua matando, ferindo ou
expulsando inocentes no mundo inteiro.
Assim, como faziam os Templários, com a convicção
de que era seu dever defender a verdade católica, como se ela fosse algo
superior à dignidade das pessoas que pensam diferente, hoje, os intolerantes
religiosos, agridem, ferem e matam aqueles que cultuam ao mesmo Deus, só que de
forma diferente. Na época dos Templários o que era importante era encher o
erário, o tesouro do rei da França e de sua casta religiosa. Isto mesmo é feito
hoje pelos fundamentalistas que servem muito a interesses econômicos e à sede
de poder de determinadas castas e elites. A ironia de tudo isto é o fato de
esses conflitos acontecerem com tanta virulência pois supõe-se que as religiões
devem centrar-se no desenvolvimento de valores espirituais como o amor e o
respeito aos irmãos, enfim, a todos os seres humanos e à natureza.
Não nos esqueçamos que todos os textos sagrados,
inclusive o Evangelho de Cristo, apareceram em sociedades totalmente diferentes
das atuais, com estágios diferentes de desenvolvimento espiritual e com
diferentes níveis de conhecimento e cultura. Mas, mesmo assim, Jesus sempre
pregou o amor, a caridade e a tolerância. Desta, a tolerância, o exemplo maior
dado por Cristo foi o caso da mulher pega em adultério (João 8,1-11).
No que concerne à nossa religião, vemos que as
religiões mais antigas se consideram proprietárias de Cristo, e o que é pior,
nem as outras religiões e, muitas vezes, nem Igrejas da mesma confissão são
respeitadas, pois seus condutores falam que somente a “sua” Igreja é a certa.
Ou seja, nestes casos, a Igreja, o Templo, o Terreiro, não seriam para cultuar
Cristo, mas o pastor, o sacerdote, o pai de terreiro e outros que, pela sua
pretensa sabedoria e pela sua perfeição, já que assim se apresentam,
tornar-se-iam os supostos melhores mensageiros de Cristo.