O RITUAL
Segunda
parte
Nas civilizações primitivas também
existiam rituais. Citemos aqui os de passagem, quando o jovem aos olhos de sua
tribo se tornava um homem; o do casamento, os funerários e outros. Não vamos
entrar detalhadamente nesses rituais, pois, aqui, o que nos interessa é mostrar
que não podemos ser contrários aos rituais, pois não somos intocáveis por eles,
nossa vida é um grande ritual cheio de rituais menores.
Nas religiões não espiritualistas, o
ritual tem como finalidade, em primeiro lugar, louvar a Deus – que embora único,
cada religião acha que o seu é que é o verdadeiro e o cultua de forma
diferente. Outro objetivo desses rituais religiosos são: ministrar sacramentos,
que vão do batismo à extrema unção, celebrar casamentos, bodas de vários tipos,
papel, madeira, prata, ouro, etc. Dentro desses rituais existem gestos,
palavras, bênçãos, utilização de elementos materiais, tais como a água, a vela
e outros que fazem parte da liturgia daquelas religiões.
Imaginemos, agora, que nenhum
ritual houvesse, em momentos importantes para cada ser humano. A noiva não se
casaria com pompa, não trajaria um vestido de noiva, não jogaria o buquê, não
faria fotos como lembranças, não teria todos que gostam dela ali ao seu lado; imaginemos
também que nenhum ritual houvesse para apresentar um recém-nascido em uma
religião; ou que não houvesse uma reunião de formatura para entrega do
certificado. O que aconteceria? Todos os esforços para chegar até aquele
momento pareceriam vãos, sem sentido pois não haveria ninguém para compartilhar
nosso sucesso ou nossa alegria. Imaginem que não houvesse uma extrema-unção e
um ritual fúnebre, e simplesmente, atirássemos na natureza, em um rio, em uma
mata, ou coisa parecida o corpo de um nosso ente querido. Será que assim
fecharíamos em nossa vida, em nossas emoções e em nossa mente aquela perda?
Claro que não.
Creio que esses exemplos são
suficientes para demonstrar a importância do ritual para o homem como um ser
coletivo. Os rituais servem ao conjunto de crenças, sentimentos, saberes e
valores, que permeiam uma sociedade e são formas de fazer daquela sociedade,
das quais ninguém está imune. Este conjunto de valores é aquilo que podemos chamar
de consciência coletiva de uma sociedade, pois os seus participantes nascem,
vivem e morrem, mas a consciência coletiva permanece, claro que com as mudanças
propiciadas pelo tempo, mas permanece. É a herança que recebemos de nossos
ancestrais.
I.
A importância
do ritual religioso
O ritual religioso é uma sequência
de atos e práticas ordenadas e padronizadas, podendo ser em silêncio ou não,
com palavras que sempre são ditas acompanhadas de gestos e atividades, os quais
são habituais e obrigatórios e que para a sua execução são utilizados objetos,
recursos e conteúdo das mais diversas raízes. Existem, vinculados às religiões,
aqueles que são de cunho verdadeiramente religioso e aqueles que são de cunho
mágico. Um ritual religioso é, por exemplo, a Gira de Umbanda em si. O abrir, o
desenrolar e o fechar a Gira, são momentos religiosos da Umbanda. Já o trabalho
das Entidades, aquilo que é feito em benefício do fiel e que ele efetivamente
recebe é algo mágico, milagroso, sobrenatural. A finalidade do ritual religioso em nossa religião é propiciar relação
entre os espíritos encarnados com o plano espiritual e com a Energia Divina –Deus,
Olorum ou Zambi. Ele é a chave que abre essa comunicação entre o plano físico e
o astral.
Na Umbanda esses momentos mágicos
acontecem desde a hora em que o médium ou o fiel entra na Casa, na Tenda. O
coração se acalma, a mente se aquieta, o sentimento de aconchego prepondera e,
na maioria das vezes, a calma e a tranquilidade são tão grandes que os fiéis e
os médiuns, ao início do Evangelho estão bocejando, pelo relaxamento que
sentem.
Um exemplo, de ritual mágico, muito comum, na Umbanda, é quando se
faz um trabalho para abertura de caminhos de um filho ou fiel. Também quando as
entidades intuem ou veem que um filho está sendo prejudicado por algum trabalho
contra ele, elas podem fazer um outro para eliminar os malefícios que estão
sendo causados àquele filho. Nesse caso, a magia é, quase sempre, feita usando
elementos semelhantes aos que foram ou podem ter sido usados para embaralhar os
caminhos daquela pessoa, caso tenha havido algum trabalho nesse sentido. Se a
entidade vê que foi usado sangue, ele pede um sangue vegetal, que pode ser água
de coco ou o sumo de frutas ou uma decocção de ervas ou o azeite de dendê ou a
cachaça. Se foi usada carne, ela pode pedir polpa, pedaços ou frutas inteiras
para o trabalho. Se ervas foram usadas para fechar os caminhos ela pode pedir
ervas de descarrego, aberturas de caminhos ou para vencer demandas.