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quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

HISTÓRIA DA UMBANDA 4





                             HISTÓRIA DA UMBANDA  4                  

                       A expansão da Umbanda ao longo do Brasil

Após a criação das sete primeiras tendas iniciou-se em todo território nacional a criação de tendas. Foram implantados Terreiros nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, e Pará. Em 1926 chega ao Rio Grande do Sul, interior, e em 1932 a Porto Alegre.

No Rio de Janeiro, foram criadas, no espaço de treze anos, sem contar as sete Tendas mandadas criar pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, doze Tendas, entre elas, como exemplo, a Tenda Espírita Fé e Humildade, a Cabana de Pai Joaquim de Luanda, Centro Espírita Caminheiros da Verdade e outras.

Já na década de 1950, no Pará, foi criada a Tenda Mirim Santo Expedito, por Joaquim Bentes Monteiro e sua esposa, que se transferiram para aquele estado com esta finalidade. Esta Tenda é originária da Tenda Mirim, cuja fundação veremos abaixo.

Em Minas Gerais já conseguimos identificar como originários do Caboclo das Sete Encruzilhadas a Tenda do Silêncio, fundada pelo Dr. Valadão, e a Tenda Umbanda Buscando Luz, fundada pelo General Berzélius e sua esposa, D. Celeste, preparada para sua missão pela entidade Pai João, originário da Tenda N. Sra. da Piedade. Dona Celeste era o aparelho da guia chefe da casa, Vó Quitéria. A Tenda do Silêncio, comandada pelo Dr. Valadão, se aproximou, posteriormente, da linha ritualística de Umbanda proposta por W. W. da Matta e Silva.

I.                                                                          O advento do Caboclo Mirim

Em 1924 no Rio de Janeiro, manifestou-se em um jovem médium Benjamim Figueiredo uma Entidade identificada como Caboclo Mirim, que vinha com a finalidade de criar um núcleo de crescimento para a Umbanda. Segundo palavras do médium do Caboclo das Sete Encruzilhadas, Benjamim foi desenvolvido por uma das entidades que atuavam através de seu aparelho. No entanto, não se sabe se pelo próprio Caboclo ou pelo Orixá Malê. Somente sabemos que foi na praia e que o jovem Benjamim foi carregado nos ombros pela entidade que incorporava em Zélio, por uma grande distância na praia e depois jogado no mar de onde saiu incorporado. Para dar início à Tenda, ou à Seara do Caboclo Mirim, como era chamada pelo seu médium, toda a sua família foi chamada a participar.  Eram ao todo 12 pessoas que deram início ao que foi chamada a Seara de Mirim, conforme foi dito acima.  Após 18 anos, em l942, foi fundada a Tenda Mirim, à rua Sotero dos Reis, 101, Praça da Bandeira; mudou-se, posteriormente, para a rua São Pedro e depois para a rua Ceará, hoje Avenida Marechal Rondon, 597.

A organização da Tenda Mirim, em relação à posição hierárquica e mediúnica, era toda baseada em nomes indígenas. Abaixo, vemos como se forma a pirâmide de mando nessa Tenda.

Bojá-mirim, médiuns de primeiro grau, iniciantes, em desenvolvimento.
Bojá, médiuns de segundo grau, encarregados do descarrego e pela doação de fluídos aos espíritos necessitados que recebem.
Bojá-guaçu, médiuns de terceiro grau, médiuns passistas.
Abaré-mirim, médiuns de quarto grau, subchefes, considerados firmes nos passes e cuidam do Terreiro orientando os médiuns de graus anteriores.
Abaré, médiuns de quinto grau, orientador dos graus anteriores sobre passes e já iniciando como médiuns para consultas espirituais.
Abaré-guaçu, médiuns de sexto grau, subcomandante, chefe de Terreiro, em preparo para comandar sessões.
Morubixaba, médium de sétimo grau, comandante chefe de Terreiro. Quando chegam a esse nível esses médiuns já podem “espalhar a caridade” como orientava o Caboclo Mirim[1].

Da Tenda Mirim saíram vários médiuns que se responsabilizaram pela criação de Tendas de Umbanda ao longo de todo território nacional. A primeira casa dela descendente foi criada, em 30/06/51, como filial, em Queimados, Nova Iguaçu, à rua Alegre, s/n.  Depois desta, novas casas foram abertas em Austin, Realengo, Colégio, Jacarepaguá, Itaboraí e Petrópolis. Fora do Rio de Janeiro, a primeira casa aberta foi a de Assai, no Paraná. 

Até l970, já tinham sido abertas 32 casas. A vida de Benjamim Gonçalves foi toda dedicada à Umbanda. Além do Caboclo Mirim ele recebia também o Preto Velho Pai Roberto.

Foi um dos maiores defensores da Umbanda, ao lado de outros como João de Freitas, Cícero Bernardino, Jerônimo de Souza, Jerônimo Vanzelloti, Omolubá, Matta e Silva, Lilia Ribeiro, Átila Nunes, Bambina Bucci e outros; além destes foram também batalhadores de primeira hora em favor da Umbanda, aqueles que foram os fundadores das sete Tendas mandadas criar pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. Esses defensores da Umbanda, sob a liderança de Zélio Fernandino de Moraes, foram os primeiros chefes daquelas Tendas: Leal de Souza, Durval Braz, João Salgado, Gabriela Dionísio Soares, José Meirelles Alves Moreira, Corina da Silva, Paulo Lavois, João Severino Ramos, José Álvares Pessoa.

II.                                                                                        A organização inicial da Umbanda

A União Espiritista de Umbanda do Brasil foi fundada em 1939 sob a inspiração e orientação direta Caboclo das Sete Encruzilhadas. Ela foi fundada com o nome de Federação Espírita de Umbanda e seu objetivo era unir os diversos templos de Umbanda.

O Brasil vivia a época do Estado Novo e a Federação serviria como interlocutora entre os diversos centros filiados, o Estado e a sociedade. Os movimentos umbandista e candomblecista tinham sido vítimas de uma lei datada de 1934. Nesse momento o Brasil se encontrava sob a ditadura de Getúlio Vargas, a caminho do  então chamado Estado Novo, a exemplo do que ocorria em Portugal, cujas bases filosóficas e políticas se baseavam no integralismo – nacional socialismo[2]ou nazismo com vestes nacionais. Aproveitando-se de artigo existente no Código Penal de 1890, as altas esferas políticas, impuseram que, todas organizações consideradas contrárias à Igreja Católica, fossem religiosas ou não, passariam a ser jurisdicionadas pelo Departamento de Tóxicos e Mistificações da Polícia do Rio de Janeiro. Assim, maçons, kardecistas, umbandistas e praticantes de religiões afro-brasileiras, estavam incluídos nesse caso.

Para que tenhamos uma medida do poder e o prestigio que eram usufruídos pela Igreja Católica, durante o Brasil Colônia, o Império, e a Primeira e Segunda Repúblicas, basta que verifiquemos que todas as tentativas para implantar outras religiões no Rio de Janeiro feitas, pelas mais diversas confissões religiosas, foram de alguma forma frustradas pela ação dessa Igreja. As Igrejas Reformadas chegavam a iniciar seus cultos, mas não conseguiam se firmar. Os documentos necessários nunca eram conseguidos; as suas reuniões eram proibidas de serem abertas ao público, portanto seus cultos somente podiam ser feitos em casas dos seguidores ou dos líderes das Igrejas.

Um breve resumo histórico desta situação nos mostra que:
·        em 1557 chega ao Rio de Janeiro a Igreja Reformada Francesa, calvinista, expulsa com os soldados franceses em 1567. Posteriormente, em 1630, com a invasão dos holandeses no nordeste do Brasil, chegou a Igreja Reformada Holandesa que sobreviveu até 1654, quando os holandeses foram expulsos;

·        em 1822, foi inaugurada a primeira Capela Anglicana no Rio de Janeiro e somente em 1855, foi fundada a primeira Igreja Protestante, no Rio de Janeiro, e que acabou constituindo primeiro trabalho protestante permanente em terras brasileiras. A partir daí começaram a chegar outras confissões religiosas, não católicas, como os Luteranos, os Presbiterianos, Metodistas, etc.;


·        somente em 07/01/1890, através do Decreto nº 119-A, de Ruy Barbosa, o Brasil tornou-se um Estado laico. Até a promulgação desse decreto, o povo tinha a liberdade para ter qualquer crença religiosa, mas não podia celebrar os seus cultos, a não ser nas casas, que não podiam ter nenhuma aparência de Igreja, de quem professava aquele culto.

Fechado esse parêntese que fizemos, para mostrar a força da Igreja Católica em nossa história religiosa, podemos, agora, dar sequência à organização da Umbanda no Brasil. A partir das informações acima, podemos ver a importância desse primeiro órgão aglutinador de umbandistas, organizado por ordem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, a Federação Espírita de Umbanda do Brasil, posteriormente denominada União Espiritualista de Umbanda do Brasil e por fim União Espiritista de Umbanda do Brasil[3]. Essa instituição, como já dissemos, organizada a pedido do Caboclo das Sete Encruzilhadas, teve como primeira grande ação, ajudar a organizar o Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda, realizado no Rio de Janeiro, em outubro de 1941.

Teve, também, papel preponderante, em 1944, na organização, edição e elaboração do livro “O Culto de Umbanda em Face da Lei”, entregue ao então presidente Getúlio Vargas, no qual eram apresentados os anseios e direitos da comunidade religiosa Umbandista, perante a Constituição e a sociedade brasileira. A partir da apresentação desse documento a Umbanda foi descriminalizada no Brasil.

Essa Federação também foi responsável pela criação do primeiro periódico sobre o assunto, o Jornal de Umbanda, em 1947.  A União Espiritista de Umbanda do Brasil tem hoje a sua sede localizada na rua Conselheiro Agostinho, 52, no bairro de Todos os Santos, na cidade do Rio de Janeiro e conta, atualmente, com diversos terreiros associados e realiza algumas festas anuais dedicadas à Umbanda[4].

Em  05 de outubro de 1952, ocorreu no Rio de Janeiro a fundação do Primado de Umbanda, como uma Organização Federativa Nacional de caráter religioso e iniciático, sem fins lucrativos, tendo por finalidade estimular o estudo da religião de Umbanda e a difusão e defesa dos seus reais ensinamentos, dar formação sacerdotal e iniciática aos Comandantes Chefes de Terreiro das Instituições Federadas e Simpatizantes do Primado de Umbanda, bem como, divulgar estudos e pesquisas atinentes à Tradição Umbandista. O Primado de Umbanda foi ideado pelo Caboclo Mirim e posto em prática pelo seu aparelho o médium  Sr. Benjamim Gonçalves Figueiredo, um dos mais importantes propagadores e defensores da Umbanda no Brasil, que introduziu pela primeira vez a Escola de Formação Iniciática do 1º ao 7º grau, usando a terminologia da língua “Nheêngatú” da nossa Raça Raiz - a Raça Tupi - para identificar os respectivos graus de evolução espiritual, visando, segundo seus objetivos, resgatar através da Escola do Primado de Umbanda os fundamentos esotéricos da Grande Lei de Umbanda[5].




[1]Maiores informações no site www.tendaespiritamirim.com.br
[2]O início da criação do partido Nacional-Socialista Alemão no Brasil tem início mesmo antes da ascensão do NSDAP na Alemanha com Adolf Hitler.
[3] Essa União teria sido formada com o nome União Espiritista de Umbanda de Jesus, mas não encontramos maiores informações sobre esse fato.
[4] Até seu falecimento, em 2018, seu presidente, foi o advogado Pedro Miranda, também Presidente da Tenda de São Jorge, última remanescente das sete primeiras tendas criadas por ordem do Caboclo das Sete Encruzilhadas.
[5]Informações contidas no site http://tucyacomani.webnode.com.br/primado-de-umbanda/