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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

BASES DOUTRINÁRIAS DA RELIGIÃO DE UMBANDA II

1.   Deus Único

Na Umbanda, chamamos de Olorum aquele que é a fonte de tudo e de todos neste mundo. Fonte da perfeição, da bondade, da fidelidade, do amor, da tolerância; é o Princípio do qual emanam todas as qualidades desejáveis no ser humano. Por isso, devemos distinguir as qualidades humanas de seu princípio. O homem ama, é bom, busca ser perfeito, tolera, é fiel, enquanto Deus é o princípio de tudo isso.  Nós O conhecemos como Olorum, mas na verdade esta é apenas uma forma de O designar. Poderá ser chamado de Zambi, Deus, Tupã, Jeovah, Rama, Atma, Bhrama, Vishnu, ou qualquer outro nome pois isto não mudará sua essência Divina e Una. Essas são apenas formas que usamos para o denominar, pois, na verdade, Deus é inominável, é incompreensível para nós, assim como é infinito, eterno e onipresente. Se não o vemos com a forma antropomórfica, que normalmente as religiões de origem cristã utilizam, podemos admiti-lo como uma energia, da qual todos os seres do universo possuem uma centelha, uma fagulha. Quando Moisés, ouve a voz que o manda voltar ao Egito para libertar seu povo, pergunta: “mas, quem devo dizer que me mandou, ao faraó?” e a resposta foi:” Diga apenas que EU SOU”.

2.   Jesus Cristo como filho e maior médium de Oxalá enviado por Deus

Jesus, nascido em Nazaré viveu seus primeiros anos como carpinteiro ao lado de seu pai José. Ele, que era possuidor de enorme intuição, mediunidade, conseguia perceber coisas que não eram dadas a conhecer aos humanos de sua época.  Na sua infância e adolescência já mostrava a sua grande capacidade mediúnica.  Quando, ainda menino, entra no Templo e começa a ensinar aos doutores e sacerdotes apresentando, aí, a sua primeira manifestação de mediunidade psicofônica.  Ele, Jesus o Nazareno, já sabia que tinha uma missão a cumprir. Assim, quando sai de sua casa e começa a reunir seus apóstolos inicia essa missão. A confirmação de sua missão especial, como Jesus, o Cristo, vem após seu batismo por João Batista, profeta que o precedeu e o anunciou.  Quando vai para a Galiléia, para o Rio Jordão, para ser batizado por João Batista ele se aproxima e João Batista busca todas as maneira para impedir que ele se batize dizendo: “Sou eu quem deve ser batizado por ti, por que vens a mim” (Mat 3; 13 a 15).  Jesus lhe respondeu; “Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça”. Neste momento manifesta-se o filho de Deus que já existia nele como uma centelha adormecida e ouve-se uma voz dizendo: “Este é meu filho bem amado, que muito me agrada” (Mat.3: 17).
Cristo torna-se assim o “caminho, a verdade e a vida”, pois aquele que o seguir chegará à plena iluminação. “Conheça a Verdade e ela vos libertará”.  A Verdade a que se refere Cristo é a compreensão do verdadeiro sentido de suas palavras, sempre desvinculadas do material, vinculadas ao espiritual, sempre com amor e não com sentido punitivo de uma lei. Por isso foi nos dado o “livre arbítrio”.  Jesus foi considerado o Único filho de Deus, pelas religiões que nele se basearam pelos seguintes motivos:
- a necessidade de reconhecê-lo como Deus;
- o fato de, à época, ser o único que entendia ser ele um desdobramento da Energia Divina; “O Pai e eu somos um” (João, 10  30).
Essas religiões, no entanto, se esquecem que o próprio Jesus, reconhece nossa filiação a Deus: “Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai que está no Céu” (Mat. 5 48) “Vós sois deuses” (João, 10  34)

3. Existência em nós da centelha divina

Em seu evangelho João o Evangelista escreve que Jesus Cristo foi abordado por Nicodemos, importante homem de Israel, que lhe disse: “Rabi, sabemos que tu és um Mestre vindo da parte de Deus. Realmente, ninguém pode realizar os sinais que tu fazes se Deus não está com ele”. Jesus respondeu: “Eu garanto a você: se alguém não nasce do Alto, não poderá ver o Reino de Deus”. (João,cap.3, v 2,3).[i] 
Nesse mesmo capítulo, Cristo continua: ”Eu garanto a você que ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nasce da água e do Espírito. Quem nasce da carne é carne, quem nasce do Espírito é Espírito. Não se espante se eu digo que é preciso que vocês nasçam do Alto. O vento sopra onde quer, você ouve o barulho, mas não sabe de onde ele vem nem para onde ele vai. Acontece a mesma coisa com o Espírito”
O sentido de Alto é o mesmo que de Espírito nessas citações. Diz respeito à necessidade que temos de fazer nascer em nós a semente adormecida da Centelha Divina; é nossa elevação espiritual, o Céu está aqui e agora resta a nós descobri-lo pois está dentro de nós. Santo Agostinho, considerado o maior teólogo da Igreja Católica disse: “O centro de Deus está em toda parte”, portanto inclusive em nós. Salomão por sua vez já havia dito, antes de Santo Agostinho, “A sabedoria de Deus brinca, todos os dias, sobre toda a redondeza da terra”.  Hoje, com o avanço dos conhecimentos astronômicos, podemos dizer que a sabedoria da terra brinca em todo o Universo Cósmico. 
A Centelha Divina que possuímos é como o brilhante que precisa ser cortado, burilado de uma pedra bruta e suja para que possa brilhar em todas sua intensidade. “Chico Xavier disse: quando fizeres sua passagem ninguém se importará com o que fostes ou o que fizestes mas, sim, com a quantidade de Luz que amealhastes ao longo da existência”.   No caso do Espírito, de nossa Centelha Divina, o burilamento não consiste em sofrermos durante nossas vidas terrenas, mas de compreendermos que ela brilhará somente após a eliminação de nossos sentimentos egocêntricos, do sentimento do Ter, depois que o Eu se sobrepor às necessidades materiais do ego, após o Ser superar o Ter. Quando Jesus Cristo fala da água e da carne está se referindo à Espiritualidade em contraposição à materialidade.
A citação sobre o vento refere-se ao “sopro divino” que todos o sentem, pois estão vivos, mas não sabem de onde vem. Não conseguem explicar o princípio vital. A ciência procurou-o de todas as formas, mas não o encontrou.  De onde vem a vida? Para onde vai? Esse é o vento que sopra sem que saibamos de onde vem e para onde vai.
Assim como Jesus Nazareno, alcançou sua realização Crística, tornando-se o filho de Deus, poderemos fazer com que esta Centelha de Deus, que existe em nós, torne-se cada vez mais fulgurante, liberta dos sentimentos mundanos. Assim, passaremos a ser em um primeiro momento homens bons, num segundo momento iluminados e virtuosos e em um momento seguinte seres luminosos, sábios.  Assim, passaremos de Bons a Iluminados  e Virtuosos; a seguir teremos luz própria, seremos Luminosos e Sábios porque conheceremos a Verdade.
A diferença ente um ser Bom e um Iluminado e Virtuoso é o fato de que uma pessoa pode ser boa, conhecendo a lei e buscando cumpri-la, sem contudo preencher todos os seus requisitos; aqueles que atingiram à condição de Iluminados e Virtuosos cumprem a Lei porque consideram a lei deve ser cumprida e, por fim, aqueles que têm Luz própria e a Sabedoria cumprem o Evangelho de Cristo porque conheceram a verdade. Já se despojaram de seu ego; de todas as necessidades materiais supérfluas. Quando Jesus traz o seu Evangelho este vem avançar além de tudo aquilo que Moisés disse. As palavras de Moisés significavam leis terrenas que permitiam controlar um povo bárbaro e ignorante.  Tribos em estado primitivo de civilização.  Já Jesus nos traz o amor. Por isso, Jesus disse “Não pensem que eu vim para destruir (abolir) a lei e os profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento” (Mat. 5;17).  O homem virtuoso é aquele que cumpre a lei (de Moisés) o sábio é aquele que abandona o ego por sua própria vontade (pela compreensão da Verdade de Jesus). O virtuoso torna-se virtuoso porque segue a lei, o sábio abandona todos os desejos materiais e sua vinculação à matéria porque compreende que esse é o único caminho para sua plena evolução.  Para o primeiro é um sacrifício, paro o segundo é uma realização.


[i] Cabe ressaltar que a letra maiúscula no Alto foi introduzida pelo autor pelo sentido que possui. Não é alto no sentido contrário ao de baixo. Veja explicação a seguir.