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terça-feira, 10 de setembro de 2019

RELIGIÕES DO RIO 1904 Primeira Parte



RELIGIÕES DO RIO

Em 1904, Paula Barreto, o mais jovem imortal da Academia Brasileira de Letras (aos 25 anos), escreveu sob o pseudônimo de João do Rio, o livro Religiões do Rio(1), a respeito das práticas religiosas que existiam no Rio de Janeiro, àquela época. As religiões, cultos e magias encontradas foram as que citamos a seguir e das quais, vamos fazer, aqui, um brevíssimo apanhado do conteúdo do livro. Quando julgarmos necessário introduziremos também algumas outras informações e algumas ideias nossas sobre cada uma das religiões encontradas. Como veremos, a importância dessa obra, para a nossa religião, é que ela demonstra que não havia, culto algum com o nome de Umbanda até 1904.

Candomblé

Algumas correntes de negros africanos já iniciavam a implantação dos primeiros Terreiros de Candomblé, nas ruas abaixo:

Rua São Diogo – Localização: Bairro Centro - Rio
Rua Barão de São Félix – Localização: Bairro Centro - Rio
Rua Núncio – Localização: Bairro Centro - Rio
Rua América – Localização: Bairro M. Pinto - Rio. 

Também na rua do Hospício o escritor encontrou várias linhas ou tendências. Nas ruas citadas, estavam representadas fundamentalmente duas nações:

Jeje, que é o Candomblé que cultua os Voduns do Reino de Daomé, levados para o Brasil pelos africanos escravizados em várias regiões da África Ocidental e Central. Essas divindades são da rica e complexa mitologia Fon e eram cultuados pelos daomedanos, que, têm sua origem, como o próprio nome indica, no antigo Reino de Daomé. Eram um povo pacífico, com elevado nível de desenvolvimento, para a época, e se tornaram, pela sua cultura de paz, presa fácil de outros povos africanos, em especial os iorubanos, que os aprisionavam e os tornavam escravos. Hoje, esse reino não mais existe e seu povo habita, basicamente, em três países, Benim, que corresponde ao território do antigo reino, e no Togo e em Gana. Com uma cultura, inclusive religiosa, mais complexa que as dos outros povos, os grupos de daomedanos que foram trazidos para o Brasil eram compostos pelos povos denominados fon, éwé, mina, fanti e ashanti.


Igexá ou Ijexá – eram povos que fazem parte do grupo étnico dos iorubanos,
que habitavam, e ainda habitam, a costa ocidental da África. Povo guerreiro,
é a nação africana que mais teve seu povo trazido como escravo para o Brasil. Originários da região onde hoje se localiza a Nigéria, ao chegarem ao
Brasil, provenientes, principalmente da cidade chamada Ilesa
,  e aqui fizeram um sincretismo  das religiões Batuque e Candomblé. Tem sua base em Orumila-Ifá, ou seja, na divindade Orumilá e em seu intermediário Ifá, bem como em seus métodos divinatórios dos Odu.

Nesta época os Candomblés de Ketu e o de Angola já existiam na Bahia, mas não foram ainda localizados no Rio. A nação Ketu existe no Brasil, há aproximadamente trezentos anos, segundo estudiosos da religião. A primeira Roça, assim se chamam os locais onde essa religião é praticada, teria sido formada por três princesas que teriam vindo como escravas, da cidade  de Oyó e da nação Ketu. Abaixo um texto de Verger, um dos primeiros e maiores estudiosos do Candomblé, em especial o do Brasil.

“Várias mulheres enérgicas e voluntariosas, originárias de Ketu, antigas escravas libertas, pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte da Igreja da Barroquinha, teriam tomado a iniciativa de criar um terreiro de Candomblé chamado Iyá Omi Àse Aira Intilè, numa casa situada na Ladeira do Berquó, hoje Rua Visconde de Itaparica, próxima à Igreja da Barroquinha”[2].

O primeiro Terreiro de Angola, embora não se saiba a data exata de sua fundação, seria o de Constâncio Silva de Souza, ou Constâncio Makuendi, angolano de nascimento, localizado na Bahia. Supõe-se que tenha sido fundado no final do século XIX.

Os Feiticeiros

A primeira coisa que devemos saber é que o feiticeiro não necessariamente trabalha com espíritos.  Quando o faz, dependendo do nível do trabalho e de acordo com sua vibração é o nível dos espíritos que trabalham com ele.  Quando trabalham com sua mediunidade utilizam-se de sua própria energia e a dos elementos que manipula. Essa energia pode ser encaminhada para o bem ou para o mal.

Desses feiticeiros, identificados no início do século passado, a grande maioria trabalhava enganando os incautos e prometendo resolver seus problemas e, em alguns casos, prometiam que o trabalho tiraria a vida da pessoa inimiga ou concorrente no amor.

As entidades, principalmente quando voltadas para o mal, atuam sobre pessoas podendo inclusive praticar o mal a aqueles que buscam essa ajuda, a aqueles a quem se dirigem ou ao próprio feiticeiro, além de gerarem um passivo espiritual para si próprias. Não desconhecemos a possibilidade de uma pessoa ter um poder excepcional que lhe permita mandar contra alguém uma energia para o mal, mas, se nós mantivermos nossa vibração sempre em alto nível, com nossos pensamentos focados no cristianismo, nenhum feitiço que nos seja mandado nos atingirá; da mesma forma, quando nossa vibração está elevada impede que espíritos inferiores se utilizem de nós ou nos obsedem.  Porém, se deixarmos cair a vibração entraremos em uma faixa inferior de vibração que nos sintoniza com o feitiço, com o obsessor, ou qualquer espírito desocupado ou energia negativa e aí, sim, ficamos vulneráveis. Por isso, deve a pessoa procurar manter-se em uma vibração superior com sua aura limpa, homogênea e harmônica.

Devemos lembrar que os feiticeiros verdadeiros, historicamente, eram pessoas que além de uma energia pessoal muito grande e da capacidade de lançá-la no espaço com um objetivo definido. Ademais, também tinham um conhecimento muito grande das energias da natureza e um poder de harmonizar-se com elas, visando utilizá-las em benefício daquilo que pretendiam.








[1] Paula Barreto, pseudônimo João do Rio, título Religiões do Rio. Este livro se encontra disponível na Internet
[2]OS PRIMEIROS TERREIROS DE CANDOMBLÉ
por: Pierre Fatumbi Verger