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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

HISTÓRIA DA UMBANDA 3




I.                                                                                              HISTÓRIA DA UMBANDA 3


A Companhia de Jesus

A história do jesuíta Gabriel Malagrida se mescla com a história de Portugal e da sua ordem religiosa, a Companhia de Jesus, também conhecida como a ordem dos padres jesuítas. Por isso mesmo devemos ter pelo menos uma ideia do que foi a Ordem dos Jesuítas e de sua atuação no Brasil.

Foi fundada no século XVI, em 1534, em Paris, por Inácio de Loyola, um nobre basco que, após ser ferido em uma batalha contra os franceses, dedicou-se à leitura de livros de teologia católica enquanto se recuperava. Durante esse período foi intuído para abandonar os bens materiais e se dedicar à busca espiritual, esforçando-se para desapegar da matéria. Depois, com seis outros estudantes da Universidade de Paris, fundou essa ordem que foi reconhecida pelo Papa Paulo III, em 1540. Foi fundada com a finalidade de trabalhar em benefício dos doentes e em missões para levar a fé em Deus e em Cristo. Seu trabalho nas missões, fez com que essa ordem se tornasse, ao longo dos séculos seguintes, um pilar da educação, em especial nas colônias recém agregadas a Portugal e Espanha, especialmente no Brasil.

Com o primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza, em 1549 chegaram os primeiros jesuítas, destacando-se posteriormente, entre eles, Manoel da Nóbrega e José de Anchieta. Vinham com a finalidade de catequizar os indígenas. Naquela época havia uma aliança tácita entre a Igreja e o estado português. Um acordo instituído entre o Vaticano e o governo reservava ao Rei de Portugal o controle exclusivo da organização e financiamento de todas as atividades religiosas nos domínios e nas terras descobertas por portugueses. Através desse sistema, que se chamava Padroado, permitia ao Rei construir igrejas, designar padres e bispos, inclusive o Cardeal de Lisboa e após essa designação estes eram aprovados pelo Papa. Com isso, Roma também dava total independência aos padres e às ordens que trabalhavam como missionários nas colônias de Portugal. Essas missões, no Brasil, sob a direção dos Jesuítas, eram administradas sem nenhuma interferência do governo português. Durante mais de dois séculos essa aliança entre o governo português e a Igreja funcionou perfeitamente, já que os interesses de ambos estavam sendo atendidos, pois ao lado da catequização dos indígenas, o que os tornava mais acessíveis aos portugueses, possibilitando aos colonos e exploradores portugueses extraírem da nova colônia muitas riquezas, com menor risco. Por outro lado, à Igreja, além da catequização, havia o interesse desse trabalho porque as ordens nele envolvidas tornavam-se extremamente ricas. Com isso, para os jesuítas também o acordo era vantajoso pois além da doutrinação dos indígenas estes, reunidos em missões sob as ordens da Companhia de Jesus, produziam também riquezas para aquela Companhia e com mão de obra a custo zero. Isto a tornou a mais rica e poderosa Ordem, não só no Brasil como dentro do Vaticano.

Em 1759, o Marques de Pombal expulsa a Companhia de Jesus de todos as colônias portuguesas e da metrópole. Para que tenhamos ideia da importância e do poder conseguido pela Ordem no Brasil, reproduzimos aqui o que seriam as propriedades dela, segundo vários historiadores, nas terras onde hoje se situam o Pará e o Maranhão. Neste último estado existiam mais de 150 missionários jesuítas, duas escolas e um seminário.  A Ordem possuía mais de cem mil cabeças de gado, fazendas de açúcar e outros produtos inclusive aqueles originários da extração vegetal. Na área onde hoje se situa o estado do Piauí, eram proprietários de patrimônio idêntico. Tudo isso era tocado com mão de obra gratuita que eram os indígenas catequizados. Essa também foi uma das razões pelas quais não interessava aos jesuítas a interferência do governo português em suas colônias.

Várias medidas foram tomadas pela Coroa Portuguesa para o enfraquecimento do poder dos jesuítas na colônia. Entre elas podemos citar a libertação dos indígenas – inclusive permitindo o casamento de homens portugueses com mulheres indígenas – a abolição do acordo do governo português com o Vaticano, que dava a este o poder temporal sobre as aldeias administradas pelos seus missionários, atingindo diretamente os jesuítas e ao seu patrimônio no Brasil. Outras medidas também foram tomadas, todas elas eliminando o poder da Igreja no Brasil.

A Igreja Católica, que tinha muito poder junto ao Império português, graças, principalmente, a força alguns de seus seguidores junto ao Rei e à Rainha de Portugal, foi afastada do poder com a ascensão ao trono de D. José I, e o aumento da força política do Marquês de Pombal. Os jesuítas caíram em desgraça no império português, já que não aceitavam a ingerência da Coroa em suas atividades e acabaram sendo expulsos de todas as colônias portuguesas.

O grande pomo da discórdia entre Pombal e os jesuítas era que este, na tentativa de modernizar o Estado, além de ter controle sobre a ação dos jesuítas, queria libertar os indígenas, o que prejudicava à Ordem que, como vimos tinha grandes produções de carne, leite e açúcar sem pagamento da mão de obra, já que esta era de indígenas recolhidos às missões, sob a capa de dar-lhes proteção.

II.           O Jesuíta Gabriel Malagrida

O que foi dito acima, interessa diretamente à história da Umbanda, em razão de seu anunciador, Caboclo das Sete Encruzilhadas, ter revelado que tivera uma encarnação anterior como o jesuíta, Gabriel Malagrida, justamente no período de rompimento entre a Coroa e a Ordem. Tanto que, Malagrida foi condenado à morte em 1761, em um julgamento que foi classificado, por Voltaire, “como um excesso de absurdo agravado com um excesso de horror”.

Gabriel Malagrida nascido em 1689, em Menaggio, uma pequena comuna italiana da Lombardia, na província de Como, filho do médico Giácomo Malagrida, começou seus estudos aos 12 anos em um colégio religioso, na capital Como. Tendo resolvido dedicar-se à vida religiosa, após concluir seus estudos, foi para Milão dar continuidade a eles com a finalidade de, posteriormente, ser admitido como noviço na Companhia de Jesus. Isto realmente se deu em 1711.

Assim, após completar seus estudos e ser ordenado, foi designado como missionário no Brasil e encaminhado para Belém, no estado do Pará, com a finalidade de aprender as línguas indígenas. Seu primeiro contato foi com a tribo dos Caicazes, posteriormente catequizada por ele. Em seguida, foi mandado para uma missão de evangelização dos indígenas Barbados, que já haviam perpetrado dois massacres, anteriormente, contra jesuítas e, também, contra indígenas já catequizados.

Também essa missão, de Malagrida, terminou em um massacre onde morreram vinte Caicazes, dos já catequizados, e que faziam parte da sua missão. Gabriel Malagrida, ferido gravemente, foi colocado em uma canoa e abandonado, à deriva, no Rio Itapecuru Mirim. Foi salvo por alguns Caicazes que o encontraram. Posteriormente, já recuperado dirigiu-se para o sul, passando pela Capitania do Piauí, chegando à Bahia, fazendo sua pregação onde chegava. De Salvador, foi a Pernambuco, Paraíba e em 1749, volta ao Maranhão e ao Pará.

Após essas missões, voltou a Portugal com o objetivo de pedir ao Rei que legalizasse as missões e colégios que havia fundado. Chegando em Lisboa, em 1750, assistiu ao Rei D. João V, por ocasião de sua morte. Voltou ao Brasil, em 1751, dirigindo-se ao Maranhão, onde permaneceu por cerca de três anos. Foi chamado por D. Mariana, rainha viúva do rei João V, com a finalidade de ser seu confessor.

Naquela época, ocorriam em Portugal as chamadas reformas pombalinas visando a modernização de Portugal. O homem forte do governo português, o Marquês de Pombal, não aceitava o padroado e com sua pretensão de renovar o estado, a exemplo do que já havia ocorrido na Inglaterra e em outros países da Europa, considerava as ordens missionárias, em especial os jesuítas, obstáculos aos seus objetivos. Para agravar ainda mais essa discordância, pois como era ele quem decidia tudo na corte e no governo, não gostou da influência que Malagrida começou a ter junto à rainha, temendo que através dela os jesuítas pudessem frustrar seus planos.

Em 1755, Lisboa é destruída por um terremoto e Malagrida, então confessor da rainha, imputou o cataclismo aos desígnios de Deus, culpando os habitantes de Lisboa, em geral, e à corte, em especial, que, por seus costumes dissolutos, teriam levado a ocorrência de tal castigo. Sobre essa catástrofe, redigiu um pequeno livro, do qual ofereceu alguns exemplares a D. José I e ao Marquês de Pombal, sobre a moral, denominado “Juízo da Verdadeira Causa do Terremoto” reafirmando sua opinião de que a causa teria sido a falta de moral e os costumes licenciosos da elite portuguesa. Pombal, no entanto, não gostou das teses por ele expostas, já que as tomou como questionamentos à sua autoridade e às decisões do Governo e o desterrou para Setúbal. Ali entrou em contato com a família Távora, que era de oposição a Pombal.

Logo em seguida, o ministro português acusou os jesuítas de incitar revoltas contra ele. Como era ele quem, de fato, governava Portugal, mandou que se extinguissem as missões dos jesuítas no Brasil, expulsar seus membros, fechar seus colégios e confiscar suas propriedades. Em 1758, Pombal acusou à família Távora e ao jesuíta Malagrida de serem os mandantes de um suposto atentado contra o Rei D. José, mandando matar praticamente toda a família Távora e ordenando a prisão de Malagrida.

Três anos depois de condenado à prisão, aos 72 anos de idade, em função de seus sofrimentos, teria perdido sua sanidade mental e, defendendo ainda com insistência suas crenças, alegava que anjos falavam com ele, dentro de sua mente. Publicou vários textos com base nessas vozes e, por eles, foi acusado de herege e condenado a morrer pelo garrote e depois na fogueira, o que aconteceu em setembro de 1761.


segunda-feira, 25 de novembro de 2019

HISTÓRIA DA UMBANDA 2





HISTÓRIA DA UMBANDA 2

No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar a hora marcada, 20:00 h, lá já estavam reunidos os membros da Federação Espírita, que queriam comprovar a veracidade do que fora declarado na véspera. Estavam presentes também parentes mais próximos, amigos, e vizinhos da família de Zélio e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos que ninguém sabia como tinha chegado até ali.

Às 20:00 h, conforme havia dito, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que naquele momento se iniciava um novo culto. Nele os espíritos de velhos africanos que haviam servido como escravos e que agora se encontravam desencarnados iriam ter a oportunidade de desenvolver os trabalhos necessários em benefício dos encarnados. Também, os indígenas brasileiros fariam parte dessa nova religião, pois igualmente queriam ajudar aos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo ou a condição social. Entretanto, até aquele momento, essas Almas não encontravam campo de atuação nos rituais remanescentes da cultura negra ou indígena, que haviam sido corrompidas e estavam direcionados, em sua totalidade, para os trabalhos de feitiçaria. Daí a necessidade dessa nova Religião.

O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto. Sessões, assim seriam chamados os períodos de trabalho espiritual, diárias das 20:00 às 22:00 h; os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito. Deu, também, o nome do Movimento Religioso que se iniciava – UMBANDA – que teria como definição a “Manifestação do Espírito para a Caridade”.

A primeira Tenda de Umbanda, para os trabalhos espirituais, que ora se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade. O Caboclo das Sete Encruzilhadas explicou que esse era o nome porque assim como Maria acolheu o filho nos braços, também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.

Tão logo o Caboclo das Sete Encruzilhadas deixou seu aparelho, chegou uma nova entidade, que não quis se sentar na mesa e aceitou um toco que lhe foi oferecido. Perguntado sobre o que ele precisava pediu apenas um cachimbo e o fumo. Era Pai Antônio, o primeiro Preto Velho a chegar na Umbanda. Assim como o Caboclo definiu algumas normas básicas sobre como deveria ser a Umbanda, Pai Antônio ditou regras claras e rígidas para a nova religião.

·        Não haveria sacrifícios;
·        não haveria cobrança pelos atendimentos;
·        não se usaria os atabaques;
·        todos deveriam vestir branco,
·        todos deveriam, e estar com os pés no chão.

Esses princípios todos tinham uma razão concreta.

Não haveria sacrifícios, pois, a partir do sacrifício de Jesus todos os rituais cristãos deveriam ser incruentos ou seja, sem sangue. Além disso, a vibração proveniente do sacrifício de animais e do sangue deles retirado, atrairia entidades de baixa evolução, incompatíveis com a proposta da nova religião de trabalhar pela caridade.

Não haveria cobrança por que o trabalho seria das Entidades e não do médium que é apenas um aparelho para a sua manifestação, e, também, por que o trabalho seria feito para caridade pura e simples.

Devemos lembrar que após vinte anos da libertação dos escravos, os negros libertos que viviam nas cidades, sem nenhum meio de subsistência, e sobreviviam, desde então, fazendo trabalhos de adivinhação, previsão do futuro, leitura de mãos, curas, feitiços, etc. Daí a necessidade de deixar claro essa questão da cobrança.

Todos os médiuns e cambonos que estivessem dentro do Terreiro usariam o branco, assim como todos estariam com os pés no chão, para exprimir a igualdade dos irmãos que iriam trabalhar no novo culto simbolizando, portanto, a humildade.

Não seriam usados os atabaques. Esta condição, de ordem absolutamente prática, teria como finalidade evitar que a polícia localizasse as Casas onde se praticaria a Umbanda, pois naquela época todo e qualquer ritual que não fosse católico era reprimido violentamente pela polícia, com a destruição do local e prisão de seus participantes.

Apenas como um adendo, que corrobora, através do Plano Espiritual, a história da origem da Umbanda. Em 1972, em mensagem psicografada por Omolubá comunicada pelo poeta Ângelo de Lys, esse espírito confirmou que a origem da Umbanda no Brasil se deu realmente através do médium Zélio de Moraes.

Como podemos ver as duas entidades que tomaram a frente, desde a origem da Umbanda, são o Preto Velho e o Caboclo. Por essa razão, as entidades chefes de um terreiro de Umbanda são, normalmente, um Preto Velho, um Caboclo, ou uma entidade de igual ou maior nível de evolução, para que as normas ditadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas e por Pai Antônio sejam seguidas fielmente. Também, por isso, o médium, para seu próprio bem, deverá ter sempre uma destas duas entidades como responsável por ele ou, como é dito, normalmente, ser uma destas duas entidades a dona da sua cabeça.

A partir de 1918, O Caboclo das Sete Encruzilhadas ordenou que começassem a fundar novas Tendas, e, até 1935, sete novas Tendas foram criadas, as quais veremos na tabela a seguir.

TENDAS FUNDADAS SOB AS ORDENS DO CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS

Nome da Tenda
Presidente
Chefe Espiritual e Linha
Ano
Tenda N. Sra. da Conceição
Leal de Souza
Caboclo Corta Vento – Linha de Oxalá
l9l8
Tenda N. Sra. da Guia
Durval Braz
Caboclo Jaguaribe – Linha de Oxóssi
Antes de 1933
Tenda Santa Bárbara
João Salgado
Pai Elias
1933 - 1935
Tenda São Pedro (!)
Gabriela Dionísio Soares
José Meirelles Alves Moreira
Corina da Silva
Caboclo Sapoéba,
Pai Francisco” e “Pai Jobá.
Pai Vicente

Antes de 1927
Tenda Oxalá
Paulo Lavois
Pai Serafim
1933 - 1935
Tenda São Jorge
João Severino Ramos
Guia Espiritual Ogum de Timbiry
15/02/1935
Tenda São Jerônimo
José Álvares Pessoa
Caboclo da Lua – Linha de Xangô
l935

                 (i)    A Tenda de São Pedro teve seguidamente a mudança de presidentes por problemas de saúde ou particulares




segunda-feira, 18 de novembro de 2019

HISTÓRIA DA UMBANDA 1





HISTÓRIA DA UMBANDA   [1]

Primeira Parte

As religiões monoteístas raramente motivaram o ser humano a aproximar-se de Deus voluntariamente. Na maioria delas esta é uma entidade intocável, inalcançável. Quase todas as religiões monoteístas, senão todas, só falam desse Deus inatingível, enquanto a maioria da humanidade vive marginalizada, abandonada e, muitas vezes, até escravizada. Poderemos, nós os Umbandistas, superar essa dificuldade? Somente se reconhecermos que Deus não está longe do ser humano, mas como disse Jesus “o reino de Deus está entre vós. "O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! ou Ei-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós. (Lucas 17:20,21)" Somente se reconhecermos que dentro de cada um de nós existe a centelha divina, somente se consideramos que Deus é onipresente, que Ele está em tudo e em todos e não restrito a um local imaginário para onde somente vão alguns poucos escolhidos.

A Umbanda é uma religião brasileira, baseada nos ensinamentos de Cristo, na comunicação com os Espíritos de Luz e na incorporação de Almas em médiuns, com a finalidade de ajudar aos encarnados na sua busca de evolução, de auxiliá-los em seu equilíbrio neste nosso plano, além de oportunidade aos Espíritos que se manifestam de aqui fazerem uma tarefa dignificante, um trabalho para a caridade, o que também lhes ajudará em sua evolução. Apresentamos, a seguir, uma síntese de sua origem.

Em fins de 1908 uma família tradicional de Neves, hoje São Gonçalo, estado do Rio de Janeiro se via envolvida com um problema que não sabia como enfrentar. Zélio Fernandino de Moraes, um jovem familiar de 17 anos que se preparava para seguir carreira militar na Marinha Brasileira, foi tomado de uma paralisia que o prendia na cama[2], além de fazer com que, nos momentos em que se movimentava tomar posições e falar de forma diferente do seu habitual. Já tinham procurado vários médicos que depois de muito examinar o jovem diziam sempre não saber ou não entender o que estava acontecendo com ele. Sua mãe, como um último recurso o levou a uma senhora negra, benzedeira e médium, que recebia um Preto Velho de nome Tio Antônio. Esperava que recebendo um passe conseguiria a sua cura. A Entidade depois de atender o jovem e lhe dar o passe disse que ele melhoraria e receberia uma entidade de sua falange.

No dia 14 de novembro desse mesmo ano, a família foi surpreendida por uma ocorrência inexplicável. O jovem Zélio sentou-se na cama, e com uma voz que não era a dele, segundo testemunhas, falou: "Amanhã meu aparelho estará curado". No dia seguinte levantou-se normalmente e começou a andar, como se nada tivesse acontecido. A família, que já havia buscado ajuda para sua melhora, com vários médicos e religiosos, não soube explicar o que tinha ocorrido. Um amigo da família, sugeriu então, uma visita à Federação Espírita do Rio de Janeiro, situada em Niterói. Foram a uma reunião presidida por José de Souza, naquele mesmo dia, 15 de novembro de 1908. O dirigente dos trabalhos determinou que ele ocupasse um lugar à mesa, fato raro para aquela época, pois somente tomavam assento em uma mesa kardecista pessoas antigas nos Centros e já mais velhos. Zélio, posteriormente, narrou seu desconforto por estar no meio de pessoas tão conhecedoras do Kardecismo e muito mais velhas que ele.

Transcrevemos, abaixo parte de uma entrevista de Zélio de Moraes, a Lilia Ribeiro, jornalista e fundadora da Tenda de Umbanda Luz, Esperança e Fé.
“Zélio relembrou sua ida à Federação Espírita (de Niterói) em 15 de novembro de 1908:

- Eu estava paralítico, desenganado pelos médicos. Certo dia, para surpresa de minha família, sentei-me na cama e disse que no dia seguinte estaria curado. Isto foi no dia 14 de novembro de 1908. Eu tinha 17 anos. No dia seguinte, eu amanheci bom. Meus pais, que eram católicos, diante dessa cura inexplicável, resolveram que eu iria à Federação Espírita, em Niterói. O presidente era José de Souza. Foi ele mesmo quem me mandou ocupar um lugar na mesa, à sua direita”. A íntegra dessa entrevista está anexa ao final deste livro.

Quando o chefe dos trabalhos deu início à sessão, Zélio tomado por uma força, segundo ele estranha e que ele não conhecia, contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer membro da mesa, e as admoestações que lhe foram feitas, o jovem levantou-se e disse: "Aqui, está faltando uma flor!". Levantou-se, retirou-se da sala. Pouco depois, voltou trazendo uma rosa branca, que depositou no centro da mesa. Essa atitude insólita causou um início de tumulto.

Restabelecida a corrente começaram a se manifestar espíritos que se diziam negros escravos, índios, caboclos, em diversos médiuns. Esses espíritos foram convidados a se retirar pelo presidente dos trabalhos em virtude, dizia ele, de seu estado de atraso espiritual[3]. A insistência dos dirigentes da mesa, para que esses espíritos não perturbassem a sessão, levou a que Zélio, tomado de um espírito, que se dizia de um Caboclo, tomasse a palavra.

A entidade incorporada em Zélio questionava por que eles não poderiam ali trabalhar para ajudar aos encarnados. Uma médium da mesa, perguntou ao espírito que estava incorporado em Zélio:" Porque o irmão, fala nestes termos, pretendendo que esta mesa aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram, quando encarnados, são claramente atrasados? E, qual teu nome irmão?" A entidade respondeu que era um Caboclo e que para ele não fazia diferença um nome, mas que poderiam chamá-lo de Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para ele não haveria caminhos fechados.

A Alma incorporada em Zélio acrescentou: "Se julgam atrasados esses espíritos dos pretos, índios, caboclos, devo dizer que amanhã estarei em casa desse aparelho para dar início a um culto onde esses negros e esses índios poderão dar a sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados”.

A médium insistiu: Por que você se diz um Caboclo, se vejo em você restos de uma veste sacerdotal? A entidade então lhe respondeu: O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da Inquisição em Lisboa, no ano de 1761, mas em minha última existência física Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.

O vidente retrucou: Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?  Perguntou com ironia. E o espírito disse: “Levarei daqui uma semente e dela nascerá uma frondosa árvore. Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã terá início”. Perguntado que culto seria aquele, a entidade respondeu: será um culto em que todos serão bem-vindos e se chamará Umbanda.


[1] A História da Umbanda chegou até nós, sacerdotes da Casa Branca de Oxalá, através da Jornalista Lilia Ribeiro. Ela que foi a fundadora e chefe da Tenda de Umbanda Luz, Esperança e Fé até sua morte, forneceu-nos todas as fitas cassetes que ela havia gravado com Zélio e ainda vários escritos, dela e de outros chefes de Terreiro, sobre a origem da Umbanda. Nos fez uma única exigência, que somente as divulgaríamos após sua morte. Foi o que fizemos com a autorização da filha de Zélio, Zilméia de Moraes Lacerda. Na verdade, outros Pais de Terreiro já tinham tido esse conhecimento anteriormente, mas foi através do trabalho de Lília Ribeiro divulgado por Mãe Maria de Omolu da Casa Branca de Oxalá, na internet, que se tornou um conhecimento geral, ao alcance de todos, a origem que aqui narramos.
[2] Existem algumas versões diferentes sobre o mal que o acometia; esta que demos, no entanto, faz parte de uma fita gravada que temos onde o próprio Zélio narra esses acontecimentos e foi confirmada em entrevista que fizemos com suas filhas, Zélia e Zilméia.
[3]Fonte: Seleções da Umbanda, em 1975 – Revista editada por Omolubá

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

AINDA A RESPEITO DO PLANO ESPIRITUAL




AINDA A RESPEITO DO PLANO ESPIRITUAL

No tocante à organização e hierarquia no plano espiritual, elas se apresentam da mesma maneira como nos organizamos em nosso plano, independente se trabalham para o Bem ou para o mal. Também lá existe a organização necessária para que cada dimensão atinja aquilo a que se propõe. Existem, nesses planos, pirâmides de mando.

Nos planos superiores, seus níveis mais altos são ocupados pelos Espíritos como nível evolução e este é o valor que legitima os responsáveis pela liderança e comando dos trabalhos. Os grupamentos que ali trabalham, desde o mais baixo e numeroso, até os mais altos, mais evoluídos, e em menor número, têm suas atividades específicas.

Para esclarecer melhor essas pirâmides, podemos compará-las a um exército, onde existe um único comandante em chefe – o espírito com mais luz -  vindo depois o estado maior, formado de oficiais de alta patente – espíritos com muita luz e sabedoria sobre suas atividades –  depois vem os oficiais comandantes de batalhões e, assim, por diante até chegar ao nível dos chamados soldados rasos, que são em número muitíssimo maior. Esta maneira de organização se dá com todas as entidades, Pretos Velhos, Caboclos e Exus. Para dar um exemplo, com os Exus. A forma de trabalho, podemos dizer, seria mais ou menos assim: imaginemos que em um bairro de uma cidade, temos um grupo de soldados cujo comandante é o cabo e que tem como função cuidar daquela comunidade. Em um conjunto de bairros, no qual o primeiro está englobado, existe um destacamento maior onde já temos mais soldados, mais cabos e um sargento, que têm sob seus cuidados aquela comunidade maior. Qualquer coisa que sair do controle naquele primeiro bairro o cabo que comanda os poucos soldados de lá fala diretamente com o sargento, chefe do destacamento do conjunto de bairros, e este lhe orienta e apoia ou se não puder fazê-lo, se vale do mando superior que existe naquela cidade. Este já tem um quartel com oficiais e um agrupamento de soldados maior. E assim por diante, e se for necessário, até chegar à mais alta patente daquela corporação. No caso específico dos Exus, imaginemos um ataque de falanges inferiores, sem luz, a um Centro ou Terreiro de Umbanda.  Caso o Exu Guardião, no caso da nossa Casa Branca o Exu Caveira, sentir que o ataque é mais forte e organizado ele pode se valer do chefe da Casa dos Exus – Exu das Sete Encruzilhadas – e solicitar uma quantidade maior de soldados para enfrentar aquele ataque. No caso dos Pretos Velhos e Caboclos, esta vinculação também se dá, com os Espíritos superiores dessas pirâmides atuando diretamente para o fortalecimento da corrente mediúnica e, também, no auxílio nos trabalhos para os quais as entidades estão sendo solicitadas no momento.

No trabalho dos espíritos, existem grupos, que com uma chefia, se responsabilizam por atividades específicas, como veremos. Cada chefia possui diferentes graus de liberdade para suas decisões, dependendo do seu nível de evolução e em consequência da sua posição na escala hierárquica – lembrem-se do exemplo de uma instituição militar. Um espírito de maior luz poderá descer, em razão de um trabalho, aos níveis inferiores ao seu, mas não poderá chegar, por sua exclusiva vontade ou decisão, a níveis superiores ao seu, pois, nos planos acima do que ele habita e trabalha, somente habitam e trabalham espíritos com nível ou níveis mais altos que aquele que ele possui. Assim se conformam as pirâmides decisórias nos planos superiores.

Nos planos inferiores, essas pirâmides se formam a partir de líderes que conseguem ter maior ascendência sobre os espíritos daqueles planos e, também, pelo seu maior descompromisso com o bem e maior compromisso com o mal. Nesses planos as organizações se dedicam a fazer o mal. Também possuem sua hierarquia e aqueles que por algum motivo não completarem uma tarefa que lhes foi ordenada ou se recusar a fazê-la poderá ser punido com os instrumentos que eles possuem ou serem perseguidos por outros espíritos inferiores. Devemos ter claro, que muitos desses espíritos, com níveis baixíssimos de evolução, fazem o que fazem, apenas por que foram mandados. Desta forma, uma desobediência nesses planos, poderá tornar sua estadia naquele nível pior do que já era. Nesses casos, os que mandam ali podem também se valer de espíritos que foram inimigos na terra, daqueles outros, também desencarnados, tornando-os seus obsessores, os quais de diversas formas buscarão vingar-se deles por possíveis situações em que, quando encarnados o agora obsessor se sentiu prejudicado por aquele a ser obsidiado. Muitas vezes os espíritos de vibração mais baixa se colocam sob a proteção de um líder de uma quadrilha ou de uma horda para evitar serem perseguidos por outros espíritos, também inferiores, com os quais têm dívidas espirituais, que estão em sua mesma dimensão[1].

O número de planos existentes no astral ao qual a Umbanda se vincula ainda não foi determinado ou visto. Por isso, vamos assumir como sete os níveis de evolução e, consequentemente, serão também sete os planos do astral aos quais poderemos nos ligar. Assumimos esse número, por ser este o número mais aceito na maioria das ordens esotéricas ou religiões. Na Teosofia, por exemplo, através de Madame Blavatsky e seus seguidores, em especial Charles Webster Leadbeater e Annie Besant, assim foi determinado. Como a Teosofia e a Umbanda, no tocante à crença na espiritualidade, se aproximam muito, podemos aceitar esse número[2], para que tenhamos uma forma de imaginar e raciocinar o plano espiritual. No livro o Nosso Lar, podemos ler as descrições de André Luís, sobre a chegada de espíritos de paragens superiores com a finalidade de proporcionar ensinamentos aos espíritos daquele plano. Além disso sabemos que o número sete é mágico na Umbanda, já que temos as Sete Linhas de Umbanda, os Sete Raios com os doze Orixás, e pela sabedoria de nossas entidades que normalmente usam esse mesmo número em seus trabalhos, como por exemplo, sete velas a serem usadas, sete banhos a serem tomados, sete rosas a serem ofertadas, etc. A mudança de plano dentro do conjunto espiritual da Umbanda, não é semelhante a uma viagem no espaço. Na verdade, como o que diferencia um plano de outro é o nível vibratório, a simples mudança de frequência vibratória nos abre as portas de outro plano, que não o nosso. Esta mudança vibratória se dá através de nossa evolução espiritual. Cada plano superior se aproxima mais e mais da vibração da Energia Divina.
Apenas como um aprendizado adicional, sugiro a leitura do livro Viagem de uma Alma[3], que nos mostra com muita clareza isso. Voltando, à coleção Nosso Lar, psicografada por Chico Xavier, em especial no primeiro volume, que leva o nome da coleção, nos é narrado um processo de adensamento do perispírito daqueles que viriam em uma missão ao nosso plano, o que nos mostra a diferença de vibração entre os diversos planos.




[1] Os livros psicografados de André Luís e de Manoel Philomeno de Miranda, nos dão uma ideia bem clara disso. Podemos citar Libertação e Loucura e Obsessão, como exemplos.

[2] Já na Antiga Grécia, Platão em sua obra A República definia a cidade ideal, onde somente nela poderia haver justiça para todos, como tendo um máximo de 5048 almas, o que é, na matemática o resultado fatorial de sete.
[3] Viagem de uma Alma - Peter Richelieu

terça-feira, 29 de outubro de 2019

ATIVIDADES EXECUTADAS NO PLANO ESPIRITUAL





ATIVIDADES EXECUTADAS NO PLANO ESPIRITUAL

Em razão das atividades referentes ao trabalho de ensinamento aos espíritos que estão ali em processo de evolução, visando a uma próxima encarnação a Aruanda necessita de ter uma guarda, uma segurança, que impeça a intromissão de espíritos inferiores e de suas gangues. Esta guarda é composta pelos Exus. Lá, como aqui em nossos Terreiros, eles trabalham para evitar que falanges poderosas do mal penetrem naquele lugar. Por isso, lá reina a calma em todos os seus lugares. Quando um espírito chega na Aruanda ele é recebido por espíritos amigos, com uma grande alegria. É o seu renascimento no plano verdadeiro e definitivo. É encaminhado para um hospital se tem seu perispírito destruído por alguma mazela terrena; para uma Casa de Passagem se deve se deslocar para outros locais dentro de Aruanda; se é um Espírito sem maior dano em seu perispírito, passa por pouco tempo em um hospital e logo vai para Escolas e Trabalhos espirituais, para um período de novos aprendizados. Se é um Espírito com luz suficiente, já é engajado em trabalhos de ajuda e de ensinamento.

Naqueles casos em que seu trabalho é dirigido a pessoas determinadas, individualmente, eles as estão ajudando na sua caminhada, fortalecendo-as no enfrentamento de suas dificuldades ou as auxiliando na superação de seus erros, defeitos e vícios sem, entretanto, interferir em seu livre arbítrio e plano de vida. Para isso, trabalham sem necessidade de se manifestarem ou de incorporarem em médiuns. Fazendo uma comparação, para facilitar, eles são os Anjos que nos guardam e ajudam em nossa vida encarnada.

Quando o trabalho, dos espíritos de luz, está voltado para o nosso plano, em atividades que beneficiarão a humanidade, eles estão também, indiretamente, ajudando-nos em nossa caminhada terrena ou trabalhando pela paz e pelo avanço espiritual e tecnológico do mundo. Não são trabalhos destinados a um indivíduo, mas sim a todos os homens e mulheres de nosso mundo. Assim, eles procuram agir sobre os líderes da humanidade numa tentativa de evitar guerras; existe uma passagem no livro Nosso Lar, onde André Luiz percebe uma grande “agitação”, se pudermos usar este termo, e pergunta ao seu mentor o porquê daquilo e ele lhe responde que, apesar dos intensos trabalhos sobre os líderes mundiais, a espiritualidade não conseguirá evitar a segunda guerra mundial.

Além dessas tarefas, existem ações sobre espíritos encarnados, que já reencarnaram com tal missão em seu planejamento de vida e que colocam toda sua vida no trabalho de pesquisas que auxiliam no avanço tecnológico, nas artes, na medicina, etc. A finalidade deste trabalho é o de inspirar a esses espíritos escolhidos, em todos aqueles setores de interesse da humanidade, para que tenhamos maior tempo nessa terra e melhor qualidade de vida, trazendo, com isso, mais tempo para nossa caminhada evolutiva.
Com isso, vemos que todos os avanços que a humanidade consegue, são, em princípio, originários do plano espiritual. Lá se descobre, cria e elabora e aqui um ser encarnado, já preparado para isso, é inspirado para reproduzir, em nosso plano, aquilo que foi feito pelos espíritos. No entanto, muitos desses avanços são posteriormente transformados em instrumentos de destruição em massa ou para o enriquecimento de alguns poucos neste mundo. Neste caso, a espiritualidade nada pode fazer, pois aqui, na terra o que prevalece é o livre arbítrio de cada um.

Finalmente, esses espíritos dos planos superiores também se manifestam em nosso plano, através de diversas religiões, em médiuns para praticar a caridade. É o caso daqueles que se manifestam em nossa Umbanda, buscando ajudar aos filhos e fiéis de nossa religião. Estes Espíritos, com nível de desenvolvimento superior ao nosso, buscam sempre praticar a caridade em suas diversas formas. Estamos aqui, falando de nossos amigos, os Pretos Velhos, os Caboclos e todas as entidades que se manifestam procurando ajudar a cada um de nós, principiando pelo seu próprio médium.

No entanto, se nos fosse dado observar os planos inferiores, veríamos que tudo funciona do mesmo jeito. Às ações de bondade, caridade, adiantamento científico,  artístico e esclarecimento mental que os planos superiores fazem para nós, as dimensões inferiores contrapõem ações de maldade, egoísmo, atraso científico, distorção de objetivos dos conhecimentos adquiridos, atraso político e social. Muitas vezes atentam contra os encarnados que estão destinados a receber as intuições para a reprodução em nosso plano daquilo que o plano espiritual nos manda, desde o simples desviar dos seus espíritos através de vícios e más ações, até mesmo atentando contra suas vidas.

Além disso, procuram prejudicar os espíritos encarnados e desencarnados, que não estejam atentos à sua caminhada de evolução, com orientações perversas, que direcionam as atuações destes para caminhos que os distanciam daquelas que seriam suas tarefas. Aproveitam-se de desentendimentos passados para, através de um trabalho de convencimento, tornar um espírito desencarnado em obsessor de um espírito encarnado; transformam espíritos desencarnados em perseguidores de outros desencarnados, visando obstruir, com a raiva de ambos, ou com a raiva de um e o medo do outro, sua possibilidade de redenção e a perdurar, por longo tempo, essa desarmonia que na maioria das vezes passa a outras encarnações; também, desorientam os líderes para que tomem decisões que podem, em última instância, gerar até guerras.

Entre os planos superior e inferior estamos nós, nosso plano físico. Entretanto, existem diversos outros que à medida em que estão localizados acima ou abaixo do nosso dizemos que são mais evoluídos ou mais atrasados.
No entanto, essa explicação é meramente didática, já que muitos desses planos, na verdade, ocupam diferentes espaços, no mesmo plano, nos quais convivem ao mesmo tempo. Na verdade, alguns são localizados em dobras do espaço, ao mesmo tempo. Portanto, estamos em uma dobra do espaço e para entender isso imaginemos que dobramos uma cartolina ou um papel. Se atravessarmos uma agulha ou um prego nessa cartolina ou no papel, dobrados, quantas dobras quisermos fazer, podemos ter uma vaga ideia do que aqui foi dito. A agulha ou o prego estarão em diferentes dobras de espaço ao mesmo tempo.

Por isso dissemos que a colocação do nosso plano no meio é apenas uma forma didática de explicar já que, no geral, existem superposições e intercessões de planos que não estão ainda, agora, ao nosso alcance compreender ou entender a sua dinâmica. As escolas espiritualistas e ou esotéricas, normalmente, utilizam essa divisão em planos, na maioria das vezes em sete planos; a Teosofia ensina que além desses sete planos, cada um se divide em outros sete sub planos, conformando um total de quarenta e nove planos. Algumas outras colocam sete para baixo do nosso e sete acima. No entanto, não devemos entrar nesse tipo de discussão, já que não é esse o objetivo desse nosso texto. Por outro lado, também não nos é dado em plena consciência vê-los ou visitá-los, por isso, àqueles que isso é permitido, o é apenas em desdobramentos ou sonhos. Essas explicações têm apenas o objetivo de gerar algum entendimento, de algo que ainda é muito difícil para nós compreendermos totalmente.



terça-feira, 22 de outubro de 2019

O QUE É O MUNDO ESPIRITUAL




O QUE É O MUNDO ESPIRITUAL

Para nós, os fiéis de religiões espiritualistas, a dificuldade máxima que encontramos é, na maioria das vezes, conseguir compreender como o mundo espiritual funciona. Alguns imaginam que esse plano é absolutamente não compreensível, para nós os espíritos encarnados. Outros possuem ideias mirabolantes, imaginando um mundo pós cibernético onde as coisas funcionam de maneira automática. Outros imaginam um mundo como o nosso, mas dedicado apenas a atividades espirituais de socorros, ensinamentos, aprendizados, etc. Enfim um terceiro grupo simplesmente não pensa sobre isso. Como então podemos ser espiritualistas se não temos nem sequer ideia de como é a esfera espiritual.

Como temos visto, através das inúmeras obras psicografadas, a dimensão espiritual possui diversos níveis de vibração. São faixas vibratórias para onde se dirigem os espíritos após a morte do corpo físico. Cada um será conduzido para aquela com a qual se harmoniza. Apenas para um exemplo de outras concepções, algumas escolas esotéricas atuais e muitas de origem mais antiga e mesmo imemoriais, definem sempre como sete os planos de vivência do ser humano, variando do plano físico até o plano divino.

As primeiras perguntas que devemos nos fazer é que caminho iremos tomar após a nossa passagem, o que nos espera no chamado mundo espiritual e o que estamos fazendo para merecer um caminho de despego material, de mais luz e de maior crescimento espiritual. Estaremos em uma dimensão serena e imperturbada? Ou estaremos em um plano de perturbações e dores? Respondidas essas primeiras perguntas, devemos nos preocupar em como viveremos em cada faixa existente. Estaremos nela sem nada fazer ou existirão lá atividades que deveremos desempenhar? Estaremos felizes? Teremos amor? Como será? Chegaremos a um lugar de trabalho ou de ócio. Tudo dependerá de nós mesmos. Nós definiremos, aqui mesmo, o caminho que vamos seguir.

O mundo espiritual nada mais é do que o mundo físico aperfeiçoado. Existem cidades, colônias, hospitais, escolas, residências, trabalho, cultura, plantas, flores, rios e tudo o mais que existe nessa nossa Terra, porém em nível muito mais sutil, construídos e nascidos de forma muito mais tênue e menos bruta que a nossa matéria. Existe um enunciado esotérico que nos diz que: “assim como é embaixo é em cima”. Isto se dá porque o que se constrói, o que se cria embaixo também se plasma em cima, e o que se descobre, os novos conhecimentos na Terra, antes são plasmados no espaço.

O que deve ser enfatizado é que a matéria prima de tudo que lá existe é muito diferente daquela que conhecemos aqui em nossa dimensão. Para entender esse tipo de energia que conforma a Aruanda, assim como todo o espaço, vamos usar como exemplo uma forma de energia da qual a Teosofia[1] nos fala. Se você pensa, por exemplo, em Papai Noel, uma forma pensamento de Papai Noel será formada no espaço[2].  O que a constrói são as ondas energéticas emitidas pelo pensamento e, portanto, são extremamente sutis.

Nos Planos Espirituais, a energia usada é muito mais sutil do que a existente em nosso planeta e, quanto mais elevada é a dimensão, mais sutil se tornam as diferentes coisas que ali são plasmadas. Esta energia conforma, portanto, aquilo que se convencionou chamar de matéria astral ou matéria extrafísica. Com isso, as construções são sutis, diáfanas, translúcidas, mas absolutamente nítidas por aqueles a quem for dada a felicidade de poder enxergar essas dimensões. Um plano onde não há a matéria densa que predomina na terra, mas sim matéria diáfana, como o nosso perispírito e, em alguns casos, até mais sutil.

Pelas comunicações dos espíritos, e por vidências acontecidas, a Aruanda é um local com construções modernas, como se prevalecesse um tipo de vidro que você apenas intui sua presença, por ser absolutamente translúcido. Sua transparência é enorme e o ar límpido torna-a ainda maior. Existe muita água e é tudo extremamente diáfano. Ao seu entorno, muitas plantas e jardins. Ao lado das construções, uma floresta, muito verde e que adentra vários lugares da cidade, Inter penetrando-a e formando um conjunto único e harmônico. A floresta parece mais verde e mais viva, é o efeito da matéria não densa. Essa floresta é a Mata da Jurema, que tanto cantamos em nossos terreiros, quando homenageamos os nossos Caboclos. Ao olharmos aquilo que na terra é matéria densa, se tivermos a oportunidade de ver Aruanda, descobriremos que lá as cores são mais belas e sua consistência mais delicada. Isto não quer dizer que a Aruanda seja assim, mas é a forma que nos é mostrada para que consigamos entender. 

Em um dos livros de André Luís ele narra, através de seu médium Chico Xavier, um fato ocorrido em uma de suas viagens astrais demandando a Terra. O grupo de Espíritos, com o qual estava, parou em uma Casa de Passagem. Lá ele viu um quadro e comentou que ele já conhecia o original dele, na Terra, da época de sua última encarnação e que a única diferença é que este, o que ele agora via, tinha cores mais fortes, mais brilhantes. O Espírito chefe da Casa lhe respondeu que o original era este que ele via agora e que o outro era uma reprodução que havia sido intuída pela espiritualidade ao pintor. Esse fato nos mostra que todas as obras inventadas ou criadas pelo homem, para o bem, para a beleza, para o enlevo dos espíritos encarnados partem do plano espiritual e são recebidas pelos que serão, aqui na Terra, seus autores, pois estes já vieram preparados para isso. Quanto ao conhecimento e as tecnologias, o ser humano, pelo seu livre arbítrio, os utiliza da forma como queira, por isso, muitos conhecimentos científicos são transformados em armas letais contra o próprio ser humano. Porém, o plano espiritual nada tem a ver com isso. São invenções que provêm da inteligência humana e nada mais do que isso.

Na Aruanda, os espíritos trabalham nas mais diversas ocupações. Suas tarefas estão voltadas ou para sua própria dimensão ou para o nosso plano. Quando trabalhando em missões voltadas para seu mundo, eles estão socorrendo os recém desencarnados, ensinando nas escolas, trabalhando em artes, ciências, hospitais e outras atividades.


[1]A origem da palavra Theosophia é grega e significa primária e literalmente Sabedoria Divina. Foi cunhada em Alexandria, no Egito, no século III d.C. por Amônio Saccas e seu discípulo Plotino que eram filósofos neoplatônicos. Fundaram a Escola Teosófica Eclética e também eram chamados de Philaletheus (Amantes da Verdade) e Analogistas, porque não buscavam a Sabedoria apenas nos livros, mas através de analogias e correspondências da alma humana com o mundo externo e os fenômenos da Natureza. (Definição da Sociedade Teosófica no Brasil)

[2]Segundo a teosofia formas-pensamento são criações mentais que utilizam a matéria fluídica ou matéria astral para compor as características de acordo com a natureza do pensamento. Deste ponto de vista, encarnados e desencarnados podem criar formas-pensamento, com características boas ou ruins, positivas ou negativas