Na verdade, a vinda de Jesus, o Cristo, incomodava muito aos doutores da Lei, sacerdotes e fariseus. Isto se devia ao fato de Cristo vir, ao longo de suas peregrinações pelas terras de Israel, pregando ensinamentos que deixavam de lado a justiça do “olho por olho, dente por dente” (Lei de Talião) trazendo, em seu lugar, uma mensagem de puro AMOR. Além disso, ele começava a questionar os procedimentos daqueles que eram responsáveis pela conservação do respeito às Escrituras Sagradas, o Antigo Testamento. Eles, na verdade, criaram, ao longo dos tempos, como uma forma de contornar as Escrituras, que eram prejudiciais à sua busca do poder e da riqueza, regras de tradição, visando contornar os ensinamentos da Torá. Essa elite, somente respeitava as Escrituras de fachada, sendo conhecidos pelos hábitos dissolutos e falsos. Quando Jesus é questionado pelos fariseus a respeito da tradição de lavar as mãos, antes de se sentarem à mesa, que não havia sido cumprida pelos seus apóstolos, ele lhes diz:
“Porque vocês desobedecem ao mandamento de Deus em nome da tradição de vocês? Pois Deus disse ‘Honre seu pai e sua mãe’. E ainda, ‘Quem amaldiçoa o pai ou a mãe, deve morrer’. E, no entanto, vocês ensinam que alguém pode dizer ao seu pai e à sua mãe: ‘O sustento que vocês poderiam receber de mim é consagrado a Deus’. E essa pessoa fica dispensada de honrar seu pai e sua mãe. Assim, vocês esvaziaram a palavra de Deus com a tradição de vocês”.
Assim como vemos, a Lei a que esses privilegiados seguiam não era aquela contida nos livros que compunham a Torá, mas, na verdade, referiam-se aos ensinamentos da tradição, que eram mais flexíveis e mais a seu caráter. A Torá é formada pelos livros do Gênesis, do Êxodo, do Levítico, dos Números e do Deuteronômio. Estes livros falam sobre a origem do povo de Israel, sobre a criação do mundo, da origem da humanidade, do pacto de Deus com Abraão e seus filhos, a libertação dos filhos de Israel do Egito, sua peregrinação durante quarenta anos até chegarem à terra prometida, além de outros ensinamentos. Um dos ensinamentos, ali contidos, foram os mandamentos e leis dadas, por Deus, a Moisés para que as entregasse e as ensinasse ao povo de Israel: os Dez Mandamentos, ou Tábuas da Lei, ou Decálogo. Esses mandamentos são a Lei de Deus. São eles, segundo o Antigo Testamento, no livro Exodus, cap.20:
1. Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei do Egito, da casa da servidão. Não terás em minha presença deuses estranhos. Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma de tudo que há no alto do Céu, ou em baixo na terra, ou o que está debaixo da terra nas águas. Não as adorarás e nem lhes dará culto soberano, pois eu Javé, teu Deus, sou ciumento: quando me odeiam, castigo a culpa dos pais nos filhos, nos netos e nos bisnetos; mas, quando me amam e guardam meus mandamentos eu os amarei por mil gerações. (Ex. cap.20 v1 a 6)
Para entender esse mandamento devemos remontar aos anos em que foram recebidos por Moisés. O povo hebreu era constituído de tribos, que muitas vezes lutavam entre si, adoravam deuses diferentes e viviam em desarmonia. Além disso, convém lembrar que o povo hebreu estava já há séculos sob o domínio dos gregos, ou dos egípcios ou dos romanos. Assim, os sacerdotes hebreus, que sempre aceitavam passivamente as imposições dos povos que os escravizavam já começavam a aceitar que deuses pagãos entrassem em suas sinagogas e lá lhes prestassem culto e adoração. Com isso, ficava ameaçado o monoteísmo que era a base fundamental da religião judaica. Essa passividade dos sacerdotes, doutores da Lei e fariseus, se devia à necessidade que tinham de continuar nas chefias e mandos que ocupavam. Por isso, procuravam não criar problemas com os que lhes escravizavam, para manter sua posição social.
Os considerados deuses pagãos eram aqueles deuses cultuados pelos dominadores, que tinham ação vinculada à natureza. Por exemplo, Pan, pelo lado romano era o deus das festas. Mas, por que das festas? Porque seus seguidores faziam as festas da colheita, e era a ele que agradeciam pelo bom resultado da sua agricultura, de seu rebanho. Pagão significa, na verdade, tudo que é vinculado à natureza. Os judeus consideravam pagãos aqueles que não foram batizados de acordo com as normas que a religião hebraica impunha.
A não confecção de estátuas, esculturas, de tudo que há no Céu, em baixo, na Terra, e debaixo da Terra e sob as águas, era uma forma de impedir que, embora aceitando o monoteísmo, os judeus começassem a fazer homenagens a deuses com formas que lembrassem os deuses pagãos. Se o fizessem, seria um passo enorme para logo em seguida passar a adorá-los e cultuá-los, soberanamente, como o Deus. Para que isso não acontecesse Deus é apresentado como um Deus ciumento e punitivo que castiga gerações pelos erros dos ancestrais.
Resta, portanto, desse mandamento, para nosso momento histórico, para nós, como principal recomendação o monoteísmo, ou seja, a crença em um só Deus e essa é a crença da Umbanda. Temos um só Deus, Olorum ou Zambi, que é aquele que não teve princípio e não terá fim; aquele que é onipotente, ou seja, que tudo pode, onisciente, ou seja, aquele que tudo conhece; que é a fonte de todas as pessoas e coisas, que está nelas e a elas transcende. É a Energia Universal que a tudo e a todos perpassa e vivifica.
2. Não pronuncies o nome de Javé, seu deus, em vão, porque Javé não dei-xará sem castigo aquele que pronunciar o nome dele em vão. (Ex. cap.20 v. 7)
Àquela época o chamar aos deuses como testemunhas de sua sinceridade, era comum entre os pagãos e mesmo entre os judeus. Mesmo naquelas situações em que o indivíduo mentia deslavadamente. Assim, esses testemunhos acabavam vulgarizando e tornando mentirosas as promessas aos deuses, no caso dos pagãos, e ao Deus único, no caso dos judeus. Também nós não devemos falar, por qualquer coisa, o nome de Olorum. Tampouco devemos usar o nome das entidades de luz, que conosco trabalham, para justificar nossas ações, nossas palavras e atos. Somos filhos de Olorum, tendo em nosso interior a Centelha Divina que um dia se abrasará e nos tornará seres luminosos e sábios.
3. Lembre-se do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalhe durante seis dias e faça todas as suas tarefas. O sétimo dia, porém, é o sábado de Javé, seu Deus. (Ex. cap.20 v8 a 10)
Este mandamento tinha como finalidade lembrar aos judeus a necessidade de pelo menos uma vez por semana estar à disposição de Deus. Era uma forma de fazer com que, liberados dos trabalhos estafantes da semana, que incluíam os da lavoura, pecuária e outros que demandavam muito esforço físico, os judeus dedicassem, pelo menos uma parte do seu tempo ao ritual religioso e à meditação sobre os ensinamentos de Deus. As tribos de Israel naquele tempo, ainda primitivas, precisavam, pelo menos uma vez por semana, estarem voltadas para o aprendizado da Lei de Deus, na busca da evolução espiritual.
Sabemos que, na verdade, ser religioso não é estar uma vez na semana no templo ou em um ritual da religião, mas estar atento, todos os dias, em todos nossos atos, pensamentos e palavras, para que não descumpramos nenhum dos ensinamentos de Cristo. Este é o espírito que norteia os Evangelhos de Cristo. Não somos perfeitos, mas se estivermos atentos conseguiremos diminuir nossos erros e caminharemos passo a passo em nossa evolução. Assim, devemos cultivar nossas boas qualidades todo o tempo possível e superar nossos erros ao longo de nossa vida.
A partir deste terceiro mandamento, veremos que os mandamentos seguintes, são, na verdade, um código de comportamento social, que tinha como finalidade preservar a família, a propriedade e as tribos.
4. Honre seu pai e sua mãe, desse modo, você prolongará sua vida, na terra que Javé deu a você.
5. Não mate
6. Não cometa adultério.
7. Não roube.
8. Não apresente testemunho falso contra seu próximo.
9. Não cobiçarás a mulher do seu próximo.
10.Não cobice a casa do seu próximo, nem o escravo, nem a escrava, nem o boi, nem o jumento, nem coisa alguma que pertença a seu próximo.
Todos esses mandamentos são um código de ética para a vida em comunidade e que todos devemos respeitar, independente da religião professada.
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