RELIGIÕES
DO RIO
Em 1904,
Paula Barreto, o mais jovem imortal da Academia Brasileira de Letras (aos 25
anos), escreveu sob o pseudônimo de João do Rio, o livro Religiões do Rio(1), a respeito das práticas religiosas que existiam no Rio de Janeiro, àquela
época. As religiões, cultos e magias encontradas foram as que citamos a seguir
e das quais, vamos fazer, aqui, um brevíssimo apanhado do conteúdo do livro.
Quando julgarmos necessário introduziremos também algumas outras informações e
algumas ideias nossas sobre cada uma das religiões encontradas. Como veremos, a
importância dessa obra, para a nossa religião, é que ela demonstra que não
havia, culto algum com o nome de Umbanda até 1904.
Candomblé
Algumas correntes de negros africanos já iniciavam
a implantação dos primeiros Terreiros de Candomblé, nas ruas abaixo:
Rua São Diogo – Localização: Bairro Centro - Rio
Rua Barão de São Félix – Localização: Bairro Centro
- Rio
Rua Núncio – Localização: Bairro Centro - Rio
Rua América – Localização: Bairro M. Pinto -
Rio.
Também na rua do Hospício o escritor encontrou
várias linhas ou tendências. Nas ruas citadas, estavam representadas
fundamentalmente duas nações:
Jeje, que é o Candomblé que cultua os Voduns do
Reino de Daomé, levados para o Brasil pelos africanos escravizados em várias
regiões da África Ocidental e Central. Essas divindades são da rica e complexa
mitologia Fon e eram cultuados pelos daomedanos, que, têm sua origem, como o
próprio nome indica, no antigo Reino de Daomé. Eram um povo pacífico, com
elevado nível de desenvolvimento, para a época, e se tornaram, pela sua cultura
de paz, presa fácil de outros povos africanos, em especial os iorubanos, que os
aprisionavam e os tornavam escravos. Hoje, esse reino não mais existe e seu
povo habita, basicamente, em três países, Benim, que corresponde ao território
do antigo reino, e no Togo e em Gana. Com uma cultura, inclusive religiosa,
mais complexa que as dos outros povos, os grupos de daomedanos que foram trazidos
para o Brasil eram compostos pelos
povos denominados fon, éwé, mina, fanti e ashanti.
Igexá ou Ijexá – eram povos que fazem parte do grupo
étnico dos iorubanos,
que habitavam, e ainda habitam, a costa ocidental da África. Povo
guerreiro,
é a nação africana que mais teve seu povo trazido como escravo para o
Brasil. Originários da região onde hoje se localiza a Nigéria, ao chegarem ao
Brasil, provenientes, principalmente da cidade chamada Ilesa, e aqui fizeram um sincretismo das religiões Batuque e Candomblé. Tem sua base em Orumila-Ifá, ou seja, na divindade Orumilá e em seu intermediário Ifá, bem como em seus métodos divinatórios dos Odu.
Brasil, provenientes, principalmente da cidade chamada Ilesa, e aqui fizeram um sincretismo das religiões Batuque e Candomblé. Tem sua base em Orumila-Ifá, ou seja, na divindade Orumilá e em seu intermediário Ifá, bem como em seus métodos divinatórios dos Odu.
Nesta época os Candomblés de Ketu e o de Angola já
existiam na Bahia, mas não foram ainda localizados no Rio. A nação Ketu existe
no Brasil, há aproximadamente trezentos anos, segundo estudiosos da religião. A
primeira Roça, assim se chamam os locais onde essa religião é praticada, teria
sido formada por três princesas que teriam vindo como escravas, da cidade de Oyó e da nação Ketu. Abaixo um texto de
Verger, um dos primeiros e maiores estudiosos do Candomblé, em especial o do
Brasil.
“Várias mulheres enérgicas e voluntariosas, originárias de Ketu, antigas
escravas libertas, pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte da
Igreja da Barroquinha, teriam tomado a iniciativa de criar um terreiro de
Candomblé chamado Iyá Omi Àse Aira Intilè, numa casa situada na Ladeira do
Berquó, hoje Rua Visconde de Itaparica, próxima à Igreja da Barroquinha”[2].
O primeiro Terreiro de Angola, embora não se saiba a data exata de sua
fundação, seria o de Constâncio Silva de
Souza, ou Constâncio Makuendi, angolano de nascimento, localizado na Bahia.
Supõe-se que tenha sido fundado no final do século XIX.
Os Feiticeiros
A primeira coisa que
devemos saber é que o feiticeiro não necessariamente trabalha com
espíritos. Quando o faz, dependendo do
nível do trabalho e de acordo com sua vibração é o nível dos espíritos que
trabalham com ele. Quando trabalham com
sua mediunidade utilizam-se de sua própria energia e a dos elementos que
manipula. Essa energia pode ser encaminhada para o bem ou para o mal.
Desses feiticeiros,
identificados no início do século passado, a grande maioria trabalhava
enganando os incautos e prometendo resolver seus problemas e, em alguns casos,
prometiam que o trabalho tiraria a vida da pessoa inimiga ou concorrente no
amor.
As entidades,
principalmente quando voltadas para o mal, atuam sobre pessoas podendo
inclusive praticar o mal a aqueles que buscam essa ajuda, a aqueles a quem se
dirigem ou ao próprio feiticeiro, além de gerarem um passivo espiritual para si
próprias. Não desconhecemos a possibilidade de uma pessoa ter um poder
excepcional que lhe permita mandar contra alguém uma energia para o mal, mas, se
nós mantivermos nossa vibração sempre em alto nível, com nossos pensamentos
focados no cristianismo, nenhum feitiço que nos seja mandado nos atingirá; da
mesma forma, quando nossa vibração está elevada impede que espíritos inferiores
se utilizem de nós ou nos obsedem.
Porém, se deixarmos cair a vibração entraremos em uma faixa inferior de
vibração que nos sintoniza com o feitiço, com o obsessor, ou qualquer espírito
desocupado ou energia negativa e aí, sim, ficamos vulneráveis. Por isso, deve a
pessoa procurar manter-se em uma vibração superior com sua aura limpa,
homogênea e harmônica.
Devemos lembrar que os
feiticeiros verdadeiros, historicamente, eram pessoas que além de uma energia
pessoal muito grande e da capacidade de lançá-la no espaço com um objetivo
definido. Ademais, também tinham um conhecimento muito grande das energias da
natureza e um poder de harmonizar-se com elas, visando utilizá-las em benefício
daquilo que pretendiam.
Sua benção, Pai Solano! Muito interessante ver como a cultura afro faz parte da constituição de nossa nação. São riquíssimos os conhecimentos, os mitos, os modos de existência desses povos. Uma pena que não sejam apresentados na nossaformação escolar, somados aos saberes dos povos indígenas e demais grupos das culturais tradicionais.A perspectiva estrita do colonizador permeia a visão de mundo de nós brasileiros. Percebo que há muita diversidade... jejes, angola,iorubanos e tantos outros que talvez não conhecemos por não terem suas vivências escritas. Li ha um tempo o livro Mitologia dos Orixás do Reginaldo Prandi, e este autor relata a importância da transmissão oral dos saberes, das crenças,dos mitos e dos mistérios nessas sociedades muitas vezes entituladas primitivas num sentido pejorativo, de inferioridade mesmo, mas que na realidade são bastante complexas e organizadas. Tive a oportunidade de ter contato com os estudos de pierre verger e caribé ainda no ensino médio e hoje percebo o quanto fui privilegiada! Tomara que no decorrer do tempo esses conhecimentos sejam mais disseminados em nosso país.
ResponderExcluirAbraço!!
Sim, Isadora, nossa cultura é seguramente uma das mais ricas do planeta, pela miscigenação ocorrida. Porém, as elites não têm o menos interesse em que o povo saiba isso. Seria, se o soubessem, um grande passo para a erradicação do preconceito. Mas, esse desinteresse não é somente com esses conhecimentos. Nossa educação, há muito, e põe muito nisso, está jogada no lixo. Quanto mais ignorante o povo, mais fácil de ser dominado. E, veja, não é questão de direita ou esquerda, nenhum governo deu a ela a atenção que merece.
ResponderExcluirSua benção PAI SOLANO,este capítulo,é muito importante,pois nos da a certeza de que ainda não tinha cultos com nome de Umbanda,já o Candomblé várias nações.Quando vem falar sobre os feiticeiros é interessante também,pois ele realmente existe.
ResponderExcluirClaro, filha. É muito importante, pois sendo as religiões que ele identificou no Rio, em 1904, temos uma prova da inexistência da palavra Umbanda como religião. Mesmo o Candomblé, como se vê no trabalho dele, era iniciante no Rio de Janeiro, embora já fosse muito desenvolvido na Bahia.
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