NÃO VIM DESTRUIR A LEI - PARTE 2
Continuação do Capítulo I
VI. Não cometais adultério.
Também, neste caso, esse mandamento era
absolutamente necessário para uma multidão que se deslocava pelo deserto, em um
ambiente onde as leis naturais não tinham força para impedir esse tipo de ato.
Para nossos dias atuais, quando já temos critérios e valores morais mais
fortes, esse mandamento possui, agora, um sentido maior de moralidade do que de
pecado, como era visto naquela época. No Evangelho segundo o Espiritismo, em
seu capítulo VIII, itens 5 e 6, podemos ler: “Ouvistes que foi dito aos
antigos: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo o que olhar para uma
mulher, cobiçando-a, já no seu coração adulterou com ela”. (Mateus, V:27-28)
6. A palavra adultério não
deve ser aqui entendida no sentido exclusivo de sua acepção própria, mas com
sentido mais amplo, Jesus a empregou frequentemente por extensão, para designar
o mal, o pecado, e todos os maus pensamentos, como, por exemplo, nesta
passagem: "Porque, se nesta geração adúltera e pecadora alguém se
envergonhar de mim e de minhas palavras, também o Filho do Homem se
envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, acompanhado dos santos
anjos" (Marcos: VIII:38).
Como vemos, no Evangelho de Jesus
essa palavra toma um sentido muito mais amplo. O adultério não é mais o ato de
ter relações sexuais fora do casamento, mas qualquer tipo de ato de corrupção
poderá ser assim classificado. Além disso, Jesus, também deixa claro que
pensamentos maus, sejam a respeito do que forem, podem ser considerados um
adultério. Na passagem citada acima, do Evangelho de Marcos, aquele se
envergonhar de Jesus também cometerá um adultério. Portanto, conforme colocado,
a verdadeira pureza não está apenas nos atos, mas também no pensamento, pois
aquele que tem o coração puro nem sequer pensa no mal. Foi isso que Jesus quis
dizer, condenando o pecado, mesmo em pensamento, porque ele é um sinal de
impureza. (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VIII itens 5 e 6). No tocante
à sexualidade, a doutrina espírita o vê como um desperdício de energia sexual,
sem amor.
Mas, adulterar não tem nesse
mandamento somente o seu sentido comum de traição conjugal. Quando faltamos com
a verdade, levando a que outra pessoa, por esse nosso comportamento, seja
prejudicada, estamos também adulterando. Quando deixamos de cumprir o que
prometemos ou deixamos de fazer aquilo que é nossa obrigação, também estaremos
adulterando, já que prejudicaremos alguém com o nosso comportamento. Quando,
estando em um negócio, comercial, industrial ou mesmo pessoal, lesamos alguém
com atitudes desonestas, também estaremos adulterando. Enfim, qualquer
comportamento nosso, que não condizer com a verdade ou com nossa obrigação, na
sociedade, no trabalho ou em nosso lar, é também uma forma de adulteração.
VII. Não roubeis.
O roubo, por quem o pratica, é,
normalmente, fruto da ambição, da inveja, do apego ao material e do
esquecimento de que temos necessidade da evolução do espírito encarnado. O
roubo seduz aos espíritos menos evoluídos por permitir obter algo, que não nos
pertence, sob a conduta da lei do menor esforço. É claro que a injustiça social
leva a muitos seres humanos recair no erro de roubar. No entanto, as condições
em que esses espíritos reencarnaram foram previstas por eles mesmos quando do
seu planejamento reencarnatório. Deste modo, podemos atribuir à fraqueza
daquele espírito o fato de incorrer, novamente, neste erro. Mais grave ainda é
quando esse roubo se dá em prejuízo de uma comunidade. Um exemplo disso é a
corrupção política. Portanto, embora do ponto de vista material ou social se
possa buscar uma explicação para uma ação desta, do ponto de vista espiritual
não deixa de ser uma provável recaída do espírito em erros que já cometeu em
outras encarnações. Este mandamento tem também uma explicação que se vincula às
condições em que viviam os judeus, ainda errantes no deserto, quando Moisés
recebe as Tábuas da Lei. Assim, além do caráter religioso, possui um caráter de
moralidade para a população.
VIII. Não presteis testemunho falso
contra o vosso próximo.
Também, neste mandamento, o sentido dele
é maior do que imaginamos. Não é somente o acusar falsamente alguém, que está
incluído aqui. Todos os tipos de mentira, que de alguma forma prejudicam um
irmão, são também uma forma de prestar falso testemunho. Quando um ser humano
dá início ou continuidade a um boato, uma fofoca, contra um seu irmão, estará
incorrendo no erro de prestar falso testemunho contra aquele irmão. Quando me
valho de uma falsa aparência de seriedade ou de honestidade, para me impor
sobre um irmão, alegando suas faltas, também estarei prestando um falso
testemunho. Quantas pessoas, que ocupam cargos que os tornam exemplos de
comportamento, se apresentam, para a sociedade, com uma cara e no seu íntimo é
absolutamente diferente. Também estes prestarão falso testemunho contra a
sociedade.
IX. Não desejeis a mulher do vosso
próximo.
Não podemos aqui, restringir esse
mandamento a simplesmente desejar a mulher do próximo. Quantas pessoas, hoje,
desejam tudo o que vêm com seus irmãos e, não podendo consegui-lo, tornam-se
verdadeiros obsessores em vida, invejando a todos emitindo energias negativas
contra todos, sentindo-se injustiçados e desamparados pela vida. Em nenhum
momento se perguntam por que não têm aquilo que desejam. Não olham para si
mesmos como os principais causadores de seus males, como o somos todos. No que
diz respeito a desejar a mulher do próximo, nos dias de hoje, tendo em vista as
mudanças por que passou a sociedade terrena, devemos lembrar que também às
mulheres se aplica este mandamento. Os desejos, sejam provenientes da atração
sexual, sejam das ambições materiais, são a raiz de todos os males. Se nos
contentássemos com aquilo que temos ou usássemos apenas os meios legais e
morais para obter mais, não incorreríamos em tantos erros, que nos geram
responsabilidades a serem resgatadas durante esta ou em outra encarnação
X. Não cobiceis a casa do vosso próximo,
nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu asno, nem qualquer
das coisas que lhe pertençam.
Aqui, neste mandamento, temos uma
recomendação que nos alerta para alguns de nossos principais erros, a inveja, a
cobiça, a falta de respeito ao próximo e a maldade que buscam conseguir
posições, propriedades e poderes, criando situações em que o ser humano busca aparentar
ter ou ser quem, verdadeiramente, não é. Devemos evitar qualquer sentimento
menos digno em nossos corações a fim de evitarmos ser pegos pela cobiça e a
inveja.
Quem cobiça os bens
alheios ainda não aprendeu, com Jesus, que há mais alegria em dar do que em
receber. O Espírito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, no livro Fonte
Viva –– Lição 117 – nos ensina na mensagem intitulada “Possuímos o que damos”:
“Quem dá recolhe a
felicidade de ver a multiplicação daquilo que deu.
Oferece a gentileza e
encorajarás a plantação da fraternidade.
Estende a bênção do
perdão e fortalecerás a justiça.
Administra a bondade
e terás o crescimento da confiança.
Dá o teu bom exemplo
e garantirás a nobreza do caráter.
Os recursos da
Criação são distribuídos pelo Criador com as Criaturas, a fim de que em doação
permanente se multipliquem ao infinito.
Serás ajudado pelo
Céu, conforme estiveres ajudando na Terra.
Possuímos aquilo que
damos.
Não te esqueças,
pois, de que és o responsável pela condução da vida em que te encontras.
Cede ao próximo algo
mais que o dinheiro de que possas dispor. Dá também teu interesse afetivo, tua
saúde, tua alegria e teu tempo e, em verdade, entrarás na posse dos sublimes
dons do amor, do equilíbrio, da felicidade e da paz, hoje e amanhã, neste mundo
e na vida eterna”.
“É claro que, aquele que colocou em seus
mandamentos: "Tu não mataras; tu não farás mal ao teu próximo" não poderia
se contradizer fazendo deles um dever de extermínio. As leis mosaicas
propriamente ditas, tinham, pois, um caráter essencialmente transitório". (Evangelho segundo o
Espiritismo, 1995 cap. I item 2 p. 54)
Finalmente, Kardec, ainda no Evangelho
segundo o Espiritismo, cap. I, nos comentários do item 2, nos diz o seguinte
sobre esta lei:
"Esta lei é de todos os tempos e de todos
os países, e tem, por isso mesmo, caráter divino. Todas as outras são leis
estabelecidas por Moisés, obrigado a manter, pelo temor, um povo naturalmente
turbulento e indisciplinado, no qual tinha que combater os abusos enraizados e
os preconceitos hauridos na servidão do Egito. Para dar autoridade às suas
leis, ele deveu atribuir-lhes origem divina, assim como fizeram todos os legisladores
dos povos primitivos; a autoridade do homem deveria se apoiar sobre a autoridade
de Deus; mas só a ideia de um Deus terrível podia impressionar homens
ignorantes, nos quais o senso moral e o sentimento de uma delicada justiça eram
ainda pouco desenvolvidos”.
Como vemos, as leis, trazidas por Moisés, são
fruto de sua mediunidade (as chamadas leis divinas) de sua sabedoria (as leis chamadas
de mosaicas, ao todo 613 mandamentos, é o nome dado ao conjunto de todos os
mandamentos que, de acordo com o judaísmo, constam na Torá (os cinco livros de
Moisés, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio).