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terça-feira, 21 de abril de 2020

A QUARESMA NA UMBANDA





A QUARESMA NA UMBANDA

Nossa religião é cristã. No entanto, devemos separar com clareza o que faz parte dos ensinamentos de Cristo e o que é parte da Igreja Católica. Devemos separar, portanto, os ensinamentos cristãos dos ritos criados por outras religiões e Igrejas cristãs. Se nos perguntarem se Jesus é filho de Deus, diremos que sim, é claro. Todos somos filhos de Deus. A grande diferença entre a humanidade e Jesus é que ele evoluiu a um ponto que é colocado como o Cristo. Cristo significa na sua origem em grego o ungido, que seria aquele que foi escolhido para trazer as palavras de Deus. É o mesmo que Messias.
Como sabemos, todo verdadeiro sábio é um mestre, no sentido lato da palavra. Ele traz para o mundo e, em especial para sua comunidade, ensinamentos que ajudarão na evolução espiritual de dos irmãos que de alguma forma o seguem. Tivemos vários mestres no mundo e a própria Bíblia nos fala deles. Eram os chamados profetas.
Porém, com Jesus foi diferente de todos esses mestres, já que em sua última encarnação foi chamado de “o ungido”, ou seja, mais que um sábio, um ser que traria os ensinamentos que perdurariam no tempo e serviriam para nos conduzir no caminho da evolução, no caminho de Deus, independentemente do nível em que nos encontramos.
As pessoas costumam perguntar o que teria aprendido Jesus nesta encarnação. Uma passagem do Evangelho, o da mulher Cananéia - Mateus 15, 21-28 - que pede, aos gritos, que Jesus cure sua filha, mostra um Jesus arrogante nas suas respostas à mulher, duro e inflexível, dizendo-lhe - "Não é bom tirar o pão dos filhos e dá-los aos cachorrinhos". Os judeus tratavam os cananeus de cachorros. A mulher lhe responde –“Também os cachorrinhos comem das migalhas que caem das mesas dos seus donos".  Diante desta resposta, Jesus entende que tinha vindo no mundo para todos os povos e não somente para os judeus.  Com isso, Jesus muda sua posição, lhe diz que a fé da mulher a havia salvado e ajuda à filha dela. Neste momento Jesus se desgarrou de sua origem, e se tornou universal. O que ele aprendeu aqui? Humildade, já que para ele até aí somente havia um povo escolhido, o seu, o judeu. Em outra passagem ele manda seus apóstolos pregarem, mas recomenda, não entrem nas terras dos pagãos. Sempre que um espírito reencarna alguma coisa ele vai aprender. Não se volta à matéria sem um motivo.
Assim, o homem Jesus reencarnou, para sua última vida na matéria. Atingiu o ápice de seu crescimento espiritual e, por isso, tornou-se um filho especial de Deus. A humanidade toda chegará a este ponto de desenvolvimento espiritual, cada ser humano ao seu tempo.
Voltemos à quaresma. Esse período que hoje é de quarenta dias, já foi de três, de trinta e por fim chegou a quarenta. Por que chegou finalmente aos quarenta dias. O número quarenta tem uma presença muito significativa na Bíblia. O dilúvio decorreu por quarenta dias e quarenta noites; Moisés caminhou quarenta anos pelo deserto com o seu povo; Jesus se refugiou no deserto por quarenta dias, e vários outros eventos ocorreram nesse período. Por isso a Igreja Católica optou por este tempo.
A quaresma é um dos ritos que mais preocupam alguns chefes de Terreiro, no tocante a como se comportar. Para entender o que seria a quaresma para nós, devemos entender primeiro a chamada paixão de Cristo. Enquanto para os católicos este período é de sofrimento para Jesus, culminando em sua morte dolorosa, para nós, espiritualistas, ele é na verdade o auge do desenvolvimento espiritual do homem Jesus. Assim, sua morte na cruz, já planejada para esta sua última vida na carne, longe de ser motivo de tristeza, é motivo de contentamento. Aquele Espírito atingiu o mais alto nível de evolução possível para um ser humano. Aquele Espírito ficou face a face com a inesgotável fonte de energia divina.
Assim, para nós, umbandistas, o significado da quaresma não pode ser o mesmo, por dois motivos: o primeiro, é o fato de não ser um ritual nosso; o segundo é pela forma como encaramos a crucificação de Jesus.  Os terreiros não só podem, como devem abrir suas portas para fazer a caridade. Nada existe, do ponto de vista espiritual que diferencie esse período do resto do ano.
Mais ainda, se as vibrações de dor, pena e culpa que tomam conta de uma parcela da população facilitarem a presença de espíritos de baixa estatura espiritual, que seja, nossas entidades estão ali para trabalhar e ajudar não só nossos fiéis e filhos umbandistas, como também para aproveitar a oportunidade para resgatar alguns desses espírito e conduzi-los para a luz.