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HISTÓRIA DA
UMBANDA 5
A
criação do CONDU
O
Conselho Nacional Deliberativo de Umbanda, foi criado em 1967, no dia 12 de
setembro, com a finalidade de congregar as Federações de Umbanda, existentes em
todo o País. Reconheceu, em 1977, em acordo com a história da Umbanda, a nossa religião
como tendo sua origem no Brasil e que ela foi anunciada pelo Caboclo das Sete
Encruzilhadas, em 1908.
Anteriormente
a essa decisão, tendo em vista a diversidade de Terreiros, tanto de Candomblé
como de Umbanda, que faziam parte das Federações de Umbanda nas diferentes
unidades da federação brasileira, o CONDU evitava se posicionar. Àquela época –
por uma necessidade incompreensível de fazer a Umbanda importante – criava-se
uma série de falsas origens da Umbanda. Aliada a essa preocupação,
havia também outras que eram:
·
a primeira tornar a Umbanda mais branca, porque
a ideia que prevalecia era de que a origem da Umbanda era africana;
·
e a segunda era torna-la mais hermética e
velada e, para isso, uns diziam que ela
havia nascido na Lemúria, hipotético continente perdido, localizado no Oceano Índico ou no Oceano Pacífico, e outros diziam
ser da Atlântida uma lendária ilha ou continente cuja primeira menção conhecida
remonta a Platão em suas
obras Timeu e Crítias;
·
caminhando na mesma direção, algumas pessoas
diziam que o Caboclo ao anunciar nossa religião, teria dito que ela chamaria
Alabanda, outros que seria Aum-Bandã, todos com a finalidade de buscar uma capa
de antiguidade à religião;
·
muitos utilizavam para denominar o Deus na
Umbanda, nomes indianos, como Atma ou Atmã.
Atma
foi copiado de uma das vertentes da filosofia hinduísta é a centelha que habita
em nós. Isso quer dizer que, em cada um de nós e em todas as outras coisas do
universo, está presente uma pequena fagulha de Deus, afirmativa que, com
ligeiras diferenças, concordamos.
Na
verdade, tudo isso fazia parte de um preconceito e da necessidade individual
dos líderes desses movimentos, de superar um complexo de inferioridade com
relação à nossa religião. Certa vez, conversando com um destes umbandistas,
figura aliás respeitável pelo que fez no CONDU, ele nos disse que segundo o
pensamento deles, precisávamos que a Umbanda subisse de categoria. Devemos
lembrar que esse complexo ainda existe em muitos umbandistas, em especial em
determinados Pais de Terreiro, que dizem que vão fazer cabeça no Candomblé para
ficar mais fortes e com maior sabedoria.
Não
existe essa possibilidade que alegam. Primeiro por que quem trabalha na Umbanda
são os Guias, as Almas; segundo por que qualquer rito ou iniciação que alguém
aprender no Candomblé nada tem a ver com a Umbanda e somente desvirtuará um
Terreiro de Umbanda, não lhe acrescentando, nem ao Terreiro, qualquer força ou
sabedoria; se alguma coisa referente ao ritual do Candomblé for colocada no
ritual de Umbanda, ele estará deixando de fazer Umbanda, já que dentro de um
ritual de Candomblé o que prevalece, embora existam atendimentos, são o jogo de
búzios e as suas festas, feituras, obrigações e oferendas, enquanto na Umbanda
o que faz com que se cumpra seu objetivo, são as reuniões de atendimento com as
entidades.
Em
1958, Omolubá e Israel Cisneiros, que já conheciam a história da Umbanda,
resolveram entrevistar Zélio Fernandino de Moraes, com a finalidade de
homenageá-lo pelo cinquentenário da Umbanda. Essa entrevista foi publicada na
revista Seleções de Umbanda, editada pelo próprio Omolubá, tendo sido a primeira
publicação de nossa história em uma revista de Umbanda. Quase vinte anos após
este fato, participando do CONDU, este batalhador umbandista, que foi o chefe
da Roça Estrela Guia de Omolu das Almas, com a participação de Lília Ribeiro,
jornalista e chefe da Tenda de Umbanda Luz Esperança e Fraternidade, de quem já
falamos, e que foi a principal repórter do início da Umbanda – dando sequência
ao trabalho de Leal de Souza – conseguiu vencer as resistências no CONDU e, em
função do trabalho dos dois, foi reconhecida a origem da Umbanda no Brasil,
através da mediunidade de Zélio Fernandino de Moraes, divulgando, em agosto de
1977, um trabalho, sobre as verdadeiras
origens da Umbanda falando da história de Zélio de Moraes.
A lei
reconhecendo a Umbanda como Religião
Em
1941, foi realizado o “Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda”
e nele foi apresentada uma tese pela Tenda S. Jerônimo, propondo a
descriminalização da prática dos rituais de Umbanda. O autor, Dr. Jayme Madruga, a par de um
minucioso estudo de todas as constituições já colocadas em vigência no Brasil,
buscou também em projetos como o da Constituição Farroupilha e nos códigos
penais até então vigentes e no que haveria de vigorar após 01 de janeiro de
l942. O caminho da Umbanda começava a ser aberto e caberia aos Umbandistas
buscar acelerar o processo com declarações e resoluções partindo daquele
congresso, em prol da descriminalização da prática da Umbanda.
Em
1944, vários umbandistas ilustres, entre eles vários militares, políticos, intelectuais
e jornalistas, apresentam ao então Presidente Getúlio Vargas um documento intitulado
“O Culto da Umbanda em Face da Lei” e, a partir daí, é conseguida, daquela
autoridade, a descriminalização da Umbanda. Este fato, que foi extremamente
positivo, trouxe, como subproduto, uma perda de identidade muito grande por
parte de nossa religião, já que todos terreiros, das mais variadas tendências e
outras seitas, incluíram em seus nomes a palavra Umbanda como forma de fugir à
repressão policial.
Como a
nossa religião, nessa época, não tinha um rito claramente definido e nem a
formação de sacerdotes ficou à mercê dessa deturpação; outro fato que
fortaleceu essa descaracterização foi que, sendo um período de crescimento, não
se buscava a qualidade dos Terreiros que se filiavam à Federação, ou à União
que lhe sucedeu, ou ao CONDU através das Federações estaduais, sendo aceitas Tendas,
Centros e Terreiros de outras origens, inclusive não cristãs, colocando todas
sob o nome de Umbanda.
Afirmação Doutrinária e Religiosa
Como
se sabe a história nunca se faz com rupturas drásticas entre um período e
outro. Todas as mudanças são anunciadas ao longo do próprio período a ser substituído,
por fatos, acontecimentos e conhecimentos, todos novos, e que começam a acorrer
antes da nova era e ao longo dos primeiros tempos do período que se inicia. Assim também aconteceu com a Umbanda. Ao longo das décadas de 40, 50 60 e 70, vários
autores começaram a buscar dar maior consistência doutrinária à Umbanda. Porém, como todas as coisas ocorrem em seu
devido tempo, quase todas as tentativas pecaram por buscar explicações para as
origens e os princípios de Umbanda em eras passadas, continentes desaparecidos
ou em línguas mortas; outro fato que levou a um fracionamento da Umbanda e às
misturas a que fizemos menção anteriormente, foi a pretensão de cada autor,
sacerdote, ou pai de terreiro, de criar sua própria religião, dando um cunho
profundamente personalista aos seus terreiros. Na verdade, isso ocorre até
hoje, n/os principais estados do Brasil.
Alguns
dos precursores da Umbanda, cumpriram, no entanto, seu papel ao colocar cada
vez mais clara a importância da Umbanda no Brasil, assim como sua verdadeira
origem. Em 1978, vem à luz o livro
“Fundamentos de Umbanda - Revelação Religiosa”, de Israel Cisneiros e Omolubá,
que vem colocar nos seus devidos lugares a/s questões da origem e da hierarquia
na Umbanda. Embora não estejamos de acordo com tudo que ali é colocado e
sabedor de que esse livro não é a palavra final sobre a hierarquia e os ritos
de Umbanda, reconhecemos, no entanto, que ele é o primeiro que se aprofundou nesses
temas para que os umbandistas pudessem meditar sobre eles. Naquele momento, que
pode ser definido como o início desse período de afirmação, assume-se a Umbanda
como religião brasileira e, como dissemos, através desse livro, começa o
primeiro movimento consistente para dar a ela uma base ritualística e de sua
hierarquia. Autores, que já haviam escrito sobre a Umbanda, mas sem ter esse
como o foco principal, são muito conhecidos por outras obras, como, por
exemplo, Cavalcanti Bandeira, José Fonseca, Emmanuel Zespo, Matta e Silva e
muitos outros que, incontestavelmente, dão continuidade ao movimento de
consolidação da filosofia e teologia de Umbanda. No entanto, em nenhum se
encontra a criação de uma hierarquia, baseada na formação sacerdotal,
fundamental para a manutenção das bases ritualísticas e conceituais.